terça-feira, 24 de março de 2009

O FUTEBOL JÁ TEM DOUTORES

Normalmente, os “doutores” são os comentadores de futebol que aparecem nas televisões, papagueando a sua “sabedoria” sobre o futebol.
Mas, agora já temos, um “doutor honoris causa”, José Mourinho.
Não se retira o mérito, ao “treinador”, José Mourinho, mas parece que, até à decisão de uma Universidade “nomear”, “doutor honoris causa” um qualquer cidadão, só porque se ganha alguns títulos como treinador de futebol, ultrapassa aquilo que é o mérito e curriculum que deve determinar tal galardão.
Quando vi a notícia, pus-me a pensar! Espera lá! Isto não está bem! E veio-me à memória, o Prof. Mário Moniz Pereira, nascido em 11 de Fevereiro de 1921!
É licenciado em Educação Física pelo Instituto Nacional de Educação Física de Lisboa, onde foi professor durante 27 anos.
Como técnico de atletismo esteve presente em 11 Jogos Olímpicos, em 13 Campeonatos da Europa e em 21 Campeonatos do Mundo de Crosse.
Então, passados estes 88 anos, um homem que se dedicou ao desporto, como desportista, atleta e treinador, nas mais diversas modalidades, desde o andebol, ao basquetebol, futebol, hóquei em patins, ténis de mesa, voleibol e atletismo, nunca mais é “Doutor”? Ou será que nestes anos todos, não conseguiu reunir o “mérito” para ser “Doutor”? Ainda, por cima, foi Professor na Universidade, onde um dia Mourinho há-de voltar!
Então, vamos ver!
No atletismo sagrou-se campeão universitário de Portugal de triplo salto e recordista nacional, campeão regional e nacional de salto em altura, triplo e salto em comprimento, em veteranos e recordista ibérico de salto em comprimento na mesma categoria.
No voleibol é campeão de Lisboa pelo Ginásio Clube de Lisboa, de Portugal pelo Sporting e da I Divisão ao serviço do CDUL.
Desempenhou funções de técnico nesta modalidade, nomeadamente no Sporting Clube de Portugal, Ginásio Clube de Lisboa, Centro Desportivo Universitário de Lisboa e do Ginásio Clube Português. Ganhou a medalha de bronze na prova de salto em comprimento e triplo salto, no Campeonato Mundial de Veteranos em 1977, em Gotemburgo, e também no triplo salto do Campeonato Europeu de 1982, em Estrasburgo.
De 1976 a 1983 foi director do Estádio Nacional e em 1982 presidiu à Comissão de Apoio à Alta Competição. Foi director técnico da Federação Portuguesa de Atletismo, Seleccionador Nacional de Atletismo e de Voleibol, Presidente da Comissão Central de Árbitros de Voleibol e Árbitro Internacional no Campeonato do Mundo de Paris, em 1956.
Em 2001 recebeu o Emblema de Ouro da Associação Europeia de Atletismo, a mais alta condecoração individual na modalidade. A pista de atletismo do antigo Estádio José Alvalade recebeu o seu nome, em homenagem ao homem que mais contribuiu para o desenvolvimento do atletismo “leonino”. É neste momento o sócio n.º2 do Sporting.
Mas, além de desportista e técnico, sabe escrever, como se pode verificar:
- Autor dos Livros “Manual de Atletismo do Conselho Providencial de Educação Física de Angola”- 1961.
- “Carlos Lopes e a Escola Portuguesa do Meio-Fundo”- 1980.
Mas, não se fica por aqui…compositor de 114 temas musicais registados na Sociedade Portuguesa de Autores. Alguns dos temas foram e são interpretados, por Amália Rodrigues Lucília e Carlos do Carmo, Carlos Ramos, Tony de Matos, Fernando Tordo, João Braga, Camané, Paulo de Carvalho, Maria da Fé, Rodrigo e Maria Armanda.
Volto a dizer que ninguém retira o mérito a José Mourinho pelo seu percurso de treinador do Benfica, em 2000, passando pela União de Leiria, até em 2002 ter ido substituir Octávio Machado, como técnico do Futebol Clube do Porto.
Foi em 2003, que Mourinho ganhou o primeiro campeonato português! Em Junho de 2004, muda-se para o Chelsea, onde se manteve até 2007.
Sai em ruptura e em Junho de 2008, reinicia a sua carreira no Inter de Milão.
Não sei se dá para comparar o “curriculum”, entre o Professor Mário Moniz Pereira, com 88 anos de idade e o do Doutor “Honoris causa”, nascido em 26 de Janeiro de 1963, isto é, com 46 anos de idade e nove anos de treinador de futebol?
Eu penso que a diferença vê-se bem! Está no futebol e na projecção internacional de José Mourinho que a Universidade Técnica de Lisboa tenta aproveitar! É Lisboa em Bolonha!
Parabéns ao José Mourinho! Espero que a Universidade Técnica de Lisboa tenha vergonha e antes de decidir por acções de “marketing”, de mau gosto, atribua, ainda em vida, o título de “Doutor Honoris causa” ao cidadão que foi professor 27 anos, nessa mesma casa e que levou o nome do atletismo português ao mundo!
E que, além do mais, ainda nos deixa um legado importante na área da cultura!
"Omnis enim advertit quod eminet et exstat. Sed acri intentione diiudicandum est, immodicum sit an grande, altum an enorme." [Plínio Moço, Epistulae 9.26.5] Todos reparam naquilo que se eleva e se destaca; mas deve-se julgar com fino discernimento se se trata de excesso ou grandeza, elevação ou extravagância.

4 comentários:

Anónimo disse...

Esqueci-me de dizer que não sou do Sporting! É uma questão de justiça!

Anónimo disse...

Em relação à "honoris causa", ou "causa honrosa", julgo que é bem aplicado à pessoa do Mourinho. Ele é "somente" o melhor e maior treinador do Mundo... do futebol como desporto... e ainda o melhor treinador de equipa, independentemente do desporto em causa.

Como "génio do futebol" que é, e mestre no uso do "efeito homeostasia" - o dom e faculdade em bem gerir os "recursos humanos" de uma equipa, e em saber melhor aproveitar esses "recursos" no objectivo final de "marcar e vencer" - acredito que Mourinho seja um merecedor da distinção "doutor honoris causa". Mourinho mudou a forma como até então o futebol técnico era encarado, muito para além dos "bitaites" dos "doutores" e outros "treinadores de bancada". Por outro lado, elevou o nome de Portugal como país de tradição futebolística.

Foi por isto que Mourinho o recebeu, mais do que pelas suas muitas vitórias e algumas derrotas, não obstante as primeiras serem o resultado prático demonstrativo da sua arte e mestria como coordenador de equipas.

O professor Moniz Pereira, sem embargo à sua "causa nobre" de conduta desportiva e pessoa douta que é, artista no verdadeiro sentido, não mudou o desporto, e o futebol em particular, da forma e intensidade como Mourinho mudou.

Anónimo disse...

Poderia dizer que se trata de duas questÕes: o mérito reconhecido de Mourinho, e o mérito ainda "não reconhecido" de Mário Moniz Pereira. Mas não posso.
Não posso porque uma é a face de sombra da outra.
Não posso porque a distinção foi outorgada por uma universidade.
Que Mourinho é um excelente treinador, como a sua carreira de 9(!)anos demonstra, parece não deixar dúvidas.
Que o percurso, de Professor de Desporto, de Mário Moniz Pereira o levou a ser o treinador desportivo português que mais alto foi no Olímpo, é ainda mais inegável,e incapaz de deixar dúvidas que o tempo venha de algum modo a suscitar.
Por isso, sem negar méritos a Mourinho (que podia, pode e poderá ser agraciado com outras "graças" e por outros "agraciadores"), esta distinção soa a oportunismo (de quem a promoveu), e seguramente a uma grande INJUSTIÇA.
Injustiça feita ao professor de desporto, a quem a Universidade , mais aberta para os "media" do que para a honrosa arte de ensinar, não soube conferir o justo galardão.Que não a Mourinho que a virá a merecer num futuro, certamente.
Por isso concordo com o "post", não obstante o meu benfiquismo versus o sportinguismo de M.M.Pereira.
Emanuel Martins

Anónimo disse...

E não vai ficar por aqui. Dentro de pouco tempo, iremos ter outro "Honoris Causa". Vejamos; O Zé Sousa depois de tudo o que tem feito de bom a este país e com a relevancia de nunca errar e como é um tipo "porreiro", vai concerteza, após as eleições ser "mais um" "honoris pela causa".
Realmente onde anda a justiça destes governantes? O Prof Moniz Pereira, só irá ser lembrado após a sua morte de certeza absoluta e se isso trouxer algum beneficio em juntar o seu nome a alguma instituição que necessite de publicidade.
Assim tenho a certeza que estamos a viver num país "porreiro pá".