segunda-feira, 28 de março de 2011

MAIS UM TIRO NO PÉ

Mê querido filho!

Que bem que me tem sabido as tuas cartinhas. Não resisti em escrever-te. Não há dúvida que, ao pé destes tipos, és um artista. Puseste a casca de banana e ele escorregaram. Agora, cada vez que abrem a boca, só dizem asneiras. Bem dizias tu que ias ganhar, novamente, as eleições. Até eu, que não percebo nada de política, a minha especialidade é croché, fiquei com a cara à banda. Não bastava aquela de aumentar o IVA e o Pedrito…não, não é o Pedrito de Portugal, este é só do PSD e não sei por quanto tempo, vem com esta, de privatizar a Caixa Geral de Depósitos. Mas quem serão os inteligentes que andam atrás do Pedrito? Olha, para ti é “Farinha Amparo”. Arrancaste com 32% nas intenções de voto, mas com estas argoladas de palmatória, vais ganhar, novamente, as eleições. Não há dúvida…os tipos são mesmo idiotas. Sim, na realidade são os mesmos, vai para mais de vinte anos, por isso tu os conheces tão bem. Eu não te tinha dito que aquelas conversas do quase economista, eram piores que as tuas, que és um quase engenheiro? Mê filho! Depois de ganhares as eleições, e desde já te dou um beijinho de parabéns por teres ganho, novamente o partido… (não há dúvida que é mesmo um partido socialista e de um homem só, grande democracia) …vais poder aumentar o IVA e com legitimidade reforçada, pelo apoio do PSD, além de martelares as reformas dos pensionistas. Não é que eu goste muito da ideia, mas tu hás-de compensar, depois, a tua mãezinha. Não é, mê filho? Essa do Pedrito querer o FMI para eles poderem ter argumento de liberalizar a economia, foi de mestre! Quem é que se lembrou dessa? Quando a generalidade dos bancos necessitam de reforçar os seus capitais próprios para não ficarem “à rasca”, o Pedrito veio com aquela da privatização da CGD. Não podias ter melhor chance…agora, basta estares atento ao continuar das alarvejadisses do PSD e ganhas esta brincadeira, mesmo depois de teres fornicado a rapaziada á canzana. Mê rico filho. Estou muito contente, por isto ter começado assim. “ A vitória é certa”. Beijinhos da tua mãezinha e logo que possas, escreve. Até lá, não te enerves…isso não fica bem na televisão.

“Uva conspecta livorem ducit ab uva.” [Juvenal, Satirae 2.81] Uma uva apodrece pelo contato com outra uva. ■Uma ovelha tinhosa faz todo o rebanho tinhoso. ■Uma maçã podre apodrece um cento.

quinta-feira, 24 de março de 2011

NÃO SE DEVEM DESCULPAR AS MÁS INTENÇÕES.

Mãezinha!
Finalmente, vou-me ver livre desta embrulhada. Caíram que nem uns patinhos. Foi só lançar o isco e pronto. A ânsia de quererem estar no poleiro deu o resultado que eu esperava. Agora, acho-me no direito de fazer de vítima e tudo aquilo, que vierem a fazer, eu posso criticar com autoridade. Só que não se vão livrar de mim. Porque lá no partido, ninguém se atreve a disputar o lugar comigo. O quê, mãezinha? O buraco ainda é maior? Claro que é. Mas eu não podia estar a dizer isso. Agora, quando eles chegarem, ao governo, que descubram. É por isso que ninguém acredita em nós. Falamos, falamos, mas trabalhar está quieto ao mau. Sim, mãezinha. O défice anda por volta dos 11%. Essa dos 9,3% é só uma aproximação. Quando o Pedro vir as contas, até se vai arrepiar. É que além dos 2% mais de IVA, vai ter que mexer nas reformas na mesma. É que mais 2% é muito dinheiro.
Ah, e os juros vão subir? Claro, mãezinha. As prestações das casas e tudo. O pessoal quando se aperceber que vai pagar mais 30 a 40 por cento, na prestação da casa, até se arrepiam, todos. Mas, nessa altura, já nós fomos a eleições, e ganhámos, outra vez. Este povo é assim mesmo. Eles não percebem nada da psicologia do contribuinte -pagante.
Se a vida vai piorar? Com certeza, mãezinha. Por isso é que te digo que ainda volto lá. É que o povinho não vai perceber e depois diz: “ são todos iguais”. E quem fornicou o país, e arranjou esta confusão toda, fui eu mais o Teixeira.
Portanto, lá para o fim de Maio, vamos ter eleições. Então isto vai mudar? Não, mãezinha. Nada vai mudar.
A riqueza que o País conseguir produzir nos próximos anos será canalizada em grande parte para o pagamento dos juros e amortizações das dívidas que eu e os tipos que estiveram antes de mim, em S. Bento, andámos a produzir. É que, quase 60% dos reembolsos de dívida pública, emitida através de obrigações do Tesouro, que serão regularizadas a curto e médio prazo já vêm do tempo do “picareta falante” (leia-se António Guterres, o que fugiu para a Comissão dos Refugiados).
Mas eles não se podem ficar a rir…porque em Junho de 2012 vence um dos maiores reembolsos de sempre que Portugal terá de cumprir de um empréstimo contraído pelo “Grande Timoneiro da Europa”, José Barroso, também conhecido pela alcunha do “Chicharro”. Perdão, Cherne, em 2002. Logo depois de ter saído do governo o nosso amigo Guterres.
Em contrapartida as dívidas que eu contrai são pequeninas. Em Abril temos para pagar 4,5 mil milhões de euros relativos a uma emissão de dívida pública feita em 2005. Em Junho, temos mais 5 mil milhões, já herdados do Guterres.
Portanto, se tiverem que pôr as culpas, ponham no Guterres e no Durão Barroso. Eu sou aquele que menos culpas tenho, no cartório.
Vai haver subida da inflação? Claro, mãezinha. Em vez dos 2,2% passaremos para uns 2,7% a 3%. Mas depois, quando eu voltar, volta a baixar. Como? Vou criar a possibilidade de destruir mais 150 mil empregos. O pessoal não consome, baixa a inflação. Nem era preciso ter andado na universidade para saber isto.
Bom, mãezinha. Tê filho vai ter que ir fazer a mala, pois tenho de ir a Bruxelas.
Beijinhos e até ao meu regresso, em breve!

“Malitiis non est indulgendum.” [DAPR 770] Não se devem desculpar as más intenções. ■Perdoar ao mau é animá-lo a ser.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A GERAÇÃO FORNICADA

Mãezinha!
Espero que esta cartinha te vá encontrar bem. Eu cá vou andando a digerir o último discurso do nosso amigo.
Se eles pensam que me vou demitir, estão muito enganados. Estou de pedra e cal e daqui, ninguém me tira. Um milhão de gajos que querem que eu saia? São mesmo parvinhos. Há um que me podia tirar daqui e não tira. Agora imagina um milhão de tipos, que a única coisa que sabem, é fugir aos impostos, a querer que eu saia. O quê? A juventude “à rasca”? Mas o que é que a geração “nem, nem”, pode fazer? Se a geração “fornicada” nada faz? Quem é a geração fornicada? Mãezinha! São aqueles que andam a pagar as contas da geração à rasca e que eu tenho andado a fornicar a ida para a reforma, deles. É fácil de ver.
Ele não tem coragem, porque também sabe que o Pedro e a rapaziada dele andam a apanhar papéis. Vai fazendo umas reuniões aqui e ali, ouvindo os pseudo- entendidos na matéria e depois, publica um livrinho, que é para dizer que anda activo. Esta do activo já me fez lembrar aquela do tipo que tinha problemas de trânsito intestinal e comprava iogurtes activos para pôr a tripa a funcionar. É claro que depois de beber paletes e paletes daquilo, não havia “trânsito” nenhum. A “merda” continuava na tripa. E é o que acontece aqui. O nosso amigo fala “grosso”, mas depois retira-se de cena, porque sabe que durante os dez anos, que esteve no meu lugar, também só fez merda. Se calhar estava a pensar que era eu, agora, que ia limpar o que ele fez? Era o que me faltava. Há-de vir o FMI, eu vou ficar por aqui, porque ninguém quer agarrar este barco, a naufragar, e depois continuo. Deixa passar a tormenta, porque a seguir vem sempre a bonança.
O país vai levar mais de trinta anos para se endireitar? Oh, mãezinha…não te preocupes. Já não estamos cá. Até lá, vamos vivendo benzinho. Ou não é? Vais receber menos de reforma, agora? Em vez de 3 mil euros, vai receber um bocadinho menos? Oh, mãezinha…ter-te arranjado a reforma é uma coisa, agora, não consigo que não leves, também, com o desconto que vão levar os reformados ricos de Portugal que têm mais de 1.500 euros de reforma. Olha que ainda são 180 mil. O outro milhão e não sei quantos mil? Esses já estão “à rasca”, mãezinha. Os outros vamos fornicando-os, suavemente. De reforma em reforma, mais uns tempitos e ficam todos doridos. Estavam a pensar que a “democracia” não tinha custos? Ah pois tem. A liberdade paga-se!
Mas isto, também, não é uma democracia, mãezinha. É uma oligarquia. Meia dúzia de aristocratas, com dinheiro, utiliza os nossos partidos, para “rendibilizar” os investimentos, melhor.
Vê lá tu, que agora, já não temos “condicionalismo” industrial. Em vez de regularmos a abertura de indústrias, fechamo-las!
Já se pode dizer tudo. Já não há lápis azul. Agora, despedimos os tipos e compramos os canais de televisão. Estávamos fechados à Europa? Só tínhamos os países da EFTA, connosco? Agora são 27 e todos amigos. Agora, estamos tão abertos à Europa que são eles que mandam em nós.
Havia pouca gente no ensino superior? É verdade, mãezinha. Agora, damos as novas oportunidades, a entrada nas universidades, com 23 anos, independentemente das habilitações e depois, ficam por conta da geração fornicada, a fazer mestrados e merdas assim.
Ah, O Presidente não sabia nada destas últimas negociações que impuseram estas novas medidas de austeridade? Nem tinha nada que saber. Eu já sabia o discurso que ele ia fazer. Se tenho escutas a trabalhar para mim? Nem penses nisso, mãezinha. Mera intuição. Aliás, tudo o que faço não tem rigor técnico. Não é como o inglês técnico que aprendi na universidade. Tudo o que faço é com a grande intuição e “feeling” com o qual nasci e que a ti, tanto devo, mãezinha.
Beijinhos deste tê filho que tem muitas saudades tuas. Ultimamente não nos temos cruzado nas escadas.

PS- Não te esqueças de ir às compras, ao supermercado e à farmácia, porque estes gajos, dos “camiões”, quando param, param mesmo.

“Malitia, versuta et fallax nocendi ratio.” [Cícero, De Natura Deorum 3.75] A maldade é um método astuto e pérfido de enganar.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Mãezinha! Estou de rastos.

Mãezinha! Estou de rastos.
Eu já adivinhava que o Cavaco, neste segundo mandato, ia ser duro. Já não tem mais mandatos para cumprir.
Ouviste o discurso que ele fez? Francamente…Tenho andado, eu e o meu governo, de um lado para o outro, a fazer leis e mais leis, para aumentar a receita e diminuir os proveitos dos portugueses e ele veio com aquele discurso. Nós não temos estado a prosseguir políticas baseadas no instinto ou no mero voluntarismo. Mãezinha, tudo, o que fazemos, é bem pensado. Se deu neste resultado? Mãezinha, a culpa é de lá de fora. Ao longo destes anos temos feito imensos investimentos em cafés, cabeleireiros e spas. Ah, mas isso não resolve o problema? Mãezinha, aquilo que aprendi na universidade foi de que o país tinha que investir nos serviços e fazer ovelhas no Alentejo. Dar uns subsídios para a malta não trabalhar e que vivíamos todos contentes. Agora, depois deste esforço todo, vem o Cavaco dizer que é necessário focarmo-nos nos sectores de bens e serviços transaccionáveis. Até parece que ele não esteve, aqui, no meu lugar, durante dez anos. Abandonaram esta merda toda. Destruíram a agricultura (vê mãezinha o que importamos de cereais), deram cabo das pescas, deixaram as empresas que produziam bens transaccionáveis fugir para a Lapónia, para Letónia e tantos outros, e agora quem se trama sou eu. Não é justo, mãezinha. Eu só tenho feito o que me ensinaram a fazer: “gastar”. Essa do poupar foi para o paizinho e para a mãezinha. No meu tempo já não era assim.
Achas que ainda vou a tempo de inverter esta política? Não me parece, mãezinha. Já ouvi hoje na rua que se tivesse vergonha, na cara, já tinha ido a Belém apresentar a minha demissão. Eu vou, é o caraças. Nunca mais volto a apanhar um lugar destes na minha vida. Chiça! E depois os meus colegas de partido? Como era, mãezinha? Iam engrossar os mais de 600 mil desempregados que já existem? Tudo isto é fruto da crise internacional. Esta malta não percebe nada de nada. Mas, o Cavaco, por acaso, é engenheiro? Não é! Então, de obras sei eu. E a obra que eu tenho andado a construir vai ficar na história portuguesa. Nem nos finais do século XIX, quando o país foi à bancarrota, a situação era tão má. Porque, hoje, Portugal não tem para onde se virar. Resta-nos emigrar e aos que ficarem, continuarem a sofrer neste país, confiado a esta geração “rasca” que nos tem governado.
Mãezinha, não te quero preocupar mais. Mas a situação só se irá aguentar até Maio. Depois, lá vamos nós para eleições. Até lá, iremos conversar, pois tenho imensa necessidade de desabafar contigo. É que já ninguém me ouve, mãezinha. Nem os jovens a quem eu dei tudo, desde as novas oportunidades, ao acesso à universidade, a partir dos 23 anos de idade.
Beijinhos deste tê filho muito desconsolado.
“Vixi, et quem dederat cursum fortuna peregi.” [Virgílio, Eneida 4.653] Vivi e completei o caminho que a sorte me destinara.