sábado, 24 de setembro de 2011

E, HOJE,APETECEU-ME ESCREVER



Ontem foi um dia, atarefado. Ao fim de várias reuniões, diversos telefonemas, despachos e outras coisas mais, mais um telefonema e nada. Fica para segunda-feira.
Regresso, a casa, ao fim do dia…e acabo por ter, por companhia, a Maria Callas e a sua belíssima voz… Hoje, apetece-me escrever. Foram algumas horas de reflexão e pensamentos, a ouvir a Maria Callas. Como não podia deixar de ser, passei pelos “Vangelis” e a sua extraordinária música. E o sono tardava em vir…é mau, porque ficamos com tempo a mais para pensar.
Hoje,apetece-me…escrever.
Ontem, ouvi a música, que me dizia algo. Aquela que tinha necessidade de ouvir. Se tivesse os amigos por volta, se calhar eles quereriam ouvir outro tipo de música. Mas, também, não tenho que arrastar os outros a ouvir a música que eu quero.
E hoje apetece-me escrever. E os dias, como o de ontem nem sempre dão para ouvir a música que ouvi, mas dão para muitas outras coisas. Calhou assim. Hoje, apetece-me escrever, mesmo sem ter nada relevante para escrever… Dá para sentir que dormimos, o quanto basta, mas que não temos o pensamento arrumado. Se calhar porque há muita coisa para dizer…que nos embarga a voz. Ainda assim, estamos vivos, saudáveis, quanto basta, a tentar envelhecer como quando crescíamos. Não pensem que é tarefa fácil. Acabou a música… tenho de mudar o DVD, mas no silêncio, veio-me à lembrança aquela música de menino…”lá vai uma, lá vão duas, três pombinhas a voar… Infelizmente, não são pombas, são Jagudis. Ainda me lembro, na Guiné, de ver empoleirado nos caixotes de lixo, os “Jagudis”. Estão sempre à espera de encontrar algum despojo para comer.
Porque…procurava encontrar respostas para todo um conjunto de perguntas, já batidas. Os dias correm com grande velocidade e a maioria das vezes calamos demais. De jovens a adolescentes, que já tivemos tudo, chega-se a um ponto em que achamos que não temos nada. E perguntamos, ingénuos, ao registo musical que nos inunda os sentidos, porque razão, somos tão tolos e incompletos? Por que motivo estamos já mais disponíveis para deslizar em vez de correr? Por que motivo nos colocamos mais atrás nas fotografias, porque razões, obscuras ou não, nos deixamos ficar quietos, e quase nem argumentamos, quando aquele fulano assume a dianteira? Até na padaria, sempre aparece a dona de casa, licenciada, em sociologia, antropologia, psicologia do desporto ou licenciada em “tuba”, ou qualquer outra coisa do género, que pensa que observou o suficiente para tentar passar a fila existente para a caixa de saída. Como eu odeio esta esperteza saloia, metida em meias de vidro. Mas, o nosso dia-a-dia está impregnado destas espertezas. E se fosse só na padaria, mas é em tudo na vida, porque alguém os convenceu que chegam lá, mais depressa, como se a decisão fosse nossa, e não das vicissitudes que a vida nos vai colocando. Idiotas!
Queremos o nosso lugar, aqui na terra. Podemos, talvez, ainda achar que somos imortais (só os tolos que ainda não viram pombinhas a voar), mas o que se tenta fazer é adoçar o sentido da vida com menos ousadia. Julgaremos nós, que os mais novos tomaram os nossos lugares, nos cafés, nas ruas, nos pontos – de –encontro? Será que pensamos que já somos um livro quase completo, mas não sabemos bem, em que página nos estamos a ler? Talvez… algumas vezes, precisaremos de um marcador de páginas da nossa vida, porque, às tantas, andamos demasiados dias a ler os mesmos capítulos, repetidamente, desconcentrados, e a música sabe-nos sempre diferente, tinge-nos a expressão, calca-nos os cabelos cãs.
E, hoje, apeteceu-me escrever.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O POVO É SERENO

Ao longo destes anos fomos assistindo, impávidos e serenos, à maior vilanagem, alguma vez possível, em democracia.
Fomos assistindo à perversão do que deveriam ser as parcerias público – privadas, que encheram os bolsos de uns quantos e, que nos hipotecaram o presente e o futuro, impávidos e serenos. Fomos assistindo aos desvios colossais do preço de obras públicas, algumas delas, que acabaram por custar, quatro vezes mais do que estava estimado, como seja o exemplo do Centro Cultural de Belém, que dos dez milhões de contos, iniciais, acabou em mais de quarenta milhões de contos ou seja duzentos milhões de euros.
Nos últimos tempos, assistimos ao roubo generalizado no BPN, que está a custar milhões ao erário público, para, logo de seguida, termos mais um buraco no BPP. E o povo sereno assiste a este filme.
O défice em Portugal a aumentar todos os dias e a dívida externa que não parava de crescer. Agora, depois de impávidos e serenos, assistirmos ao aumento brutal de impostos, à redução de serviços a prestar pelo Estado, que pagamos com os nossos impostos, ainda nos deparamos com a desfaçatez de um Presidente de um Governo Regional, invocar “estados de necessidade” ou de “legítima defesa”, para dívidas colossais, com desvios de documentos, numa ilha com duzentos mil habitantes. Contas subtraídas às entidades fiscalizadoras.
O povo, impávido e sereno, tem vindo a assistir, também, ao genérico mau desempenho das entidades fiscalizadoras. Começou pelo Banco de Portugal, cujo líder, levou uma ponta pé para cima, e acaba nas restantes entidades fiscalizadores. Ninguém viu!
E os governos foram governando…claro, se a única responsabilidade é entregar, no modelo actual, o escrutínio, a pouco mais de 50% dos portugueses para ir dando alternância ao poder, que no caso da Madeira, e para lá caminham os Açores, os que lá vivem, dependem dos Governos Regionais, cá estamos nós, para impávidos e serenos irmos pagando estas andanças que levaram um país à falência.
Os portugueses não passam de um conjunto de condóminos que entregam a sua propriedade, a uma qualquer administração e depois nem às Assembleias de condóminos vão.
Resultado…o prédio está em ruínas e a administração gastou o dinheiro das quotizações dos condóminos, menos a dos vinte e cinco por cento, dos que não pagam quotas, mas vão beneficiando de todas as regalias de condóminos.
Depois, quando ouvimos dizer que o caso está entregue, na Procuradoria da República ficamos descansados…porque nada vai acontecer.
Tudo isto só é possível, porque o povo é sereno…e, além do mais, põe-se a jeito.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O CONGRESSO DO PS VISTO PELO ZÉ

Mãezinha!
Que saudades que tenho de te escrever estas cartas. Não penses que pelo facto de estar a “estudar”, que não vou encontrar tempo para te escrever.
Estes primeiros tempos de habituação, aqui, na Universidade, não me deram muita folga para estar a escrever-te. Embora, esteja a escrever as memórias de seis anos de governação.
O quê? Estás a pensar que eu vou falar das borradas que andei a fazer? Não, mãezinha. Vou só falar das coisas boas e dizer mal da oposição. Então, não quiseram o PEC IV e, agora, ainda estão a fazer pior que eu? Não, mãezinha, isto não vai ficar assim. Aliás, estive este fim -de -semana a ver na Sic Internacional, o Congresso do meu partido e não há dúvida nenhuma, que o Seguro, não tem o mesmo jeito de inflamar a plateia que eu tenho. Quando ele chegou ao final e tentou imitar-me, fazendo uma série de perguntas, para que a assistência fizesse um coro de aprovação, só eu é que consegui essas aclamações. É preciso muitos anos a virar frangos, para pôr uma assembleia ao rubro. E aí, não há pai para mim. Por outro lado, o Seguro não poderia esperar que a “malta” que lá esteve, que me apoiou no último Congresso, antes das eleições, fosse, agora, fazer o mesmo com ele. Que batam umas palmas, tudo bem. Mas, nunca aquele Congresso poderia ser o mesmo de um líder “espiritual”, como eu.
Não sou um líder espiritual? Oh, mãezinha…ai sou, sou. Tu ouviste por acaso alguém dizer mal dos seis anos em que fui primeiro-ministro? Da carrada de erros que cometemos? Da arrogância que eu tinha? Da atitude narcisista que eu sempre cultivei? Claro que não. E para que isso aconteça, só por força do meu espírito, que ficou profundamente marcado, nos meus camaradas. Agora, e depois de termos assinado o documento da Troika, e como o Pedro está a fazer mais do que isso, é fácil ao meu querido partido opor-se e tentar fazer com que esta corrida de fundo, seja mais curta.
Depois de terminar o curso, e já consegui que me dessem algumas equivalências, aqui na Sorbonne, voltarei como um filosofo, a meter-me na política. Se me deram equivalências? Claro, mãezinha. Tive, foi de fazer um teste de francês técnico. Fui lá entregá-lo, a semana passada. Desta vez, ninguém me vai apanhar com testes a serem enviados por fax.
Sobre o Congresso, até achei piada, aquela de virar à esquerda. A mãozinha a substituir a rosa, o que mostra mais dureza na política, e a cor rosa a passar a vermelho. Quase o vermelho “Ferrari” que pode transmitir aquela ideia de agressividade que é necessária na esquerda. Sim, também não é preciso falar como o Louçã. Assim com falinhas mansas, ao estilo do Tó Zé, está melhor. Por um lado, dizemos aos papalvos que vamos para a esquerda, por outro, até somos uns gajos porreiros e afáveis. Aquela de andar a ver os bastidores das televisões, foi óptimo. Porque deu-lhe um tempo de antena, fora de série.
Mãezinha…isto promete. O Pedro, agora, leva isto até ao fundo e depois, de já não haver défice e o país estar em termos económicos, moribundo, nós voltaremos ao poder e, espero lá estar, já com o curso concluído.
Esses tipos do Pedro e do Paulo, andaram a dizer que faziam e aconteciam, que não queriam resolver os problemas pela via dos impostos, agora, tramaram o povinho, com aumentos brutais de impostos e ainda falta a Madeira.
Ainda bem, que eu, agora, só estou virado para a filosofia. Ao fim e ao cabo, nestes últimos anos foi o que mais fiz. Andar a filosofar, pensando na dicotomia do que era real e a utopia. E não há dúvida, mãezinha…como dizia o nosso querido Gedeão, no seu célebre poema:
“Sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança”. Já viste, mãezinha o que isto tem avançado? Se não fosse assim, a sonhar, Portugal, nunca teria chegado onde chegou.
Beijinhos, e logo, que eu possa, voltarei para junto de ti.

PS: Vai abrindo as janelas do apartamento, para que não fique a cheirar a mofo.

sábado, 10 de setembro de 2011

IDEIAS POLÍTICAS…

Se fosse Ministro, pediria, a Deus, que não me desse ideias, nem ao calor da lareira, nem sentado na cagadeira. Porque ideias postas em prática, retiradas destes momentos de relaxe, normalmente, ou são madeira e terra queimada, ou borrada de certeza.
“Grandes alterações nas autarquias. Grandes poupanças!”
Vasculhando o jornal, que levamos para a retrete, ficamos surpreendidos…
Uma das grandes medidas é reduzir o número de Vereadores, nas Câmaras Municipais. Bom, na maioria das Câmaras, perto de 50% dos Vereadores não têm pelouros. O que significa que se limitam a ganhar a senha de presença nas reuniões do executivo camarário, que no máximo, se limitam a duas sessões por mês. Uma fortuna, como se pode calcular. Estão a ver o alcance desta medida em termos de poupança?
Logo a seguir, redução drástica dos “altos” cargos de chefia nas autarquias! Bom, então aqui, se nos descuidados, furamos o papel e borramos os dedos. A maioria das chefias, tem como vencimento, o que aufere como técnico superior… ou seja, o vencimento, que auferem, é igual, sendo chefe ou não, pois a maioria das chefias, Directores Municipais, Directores de Departamento e Chefes de Divisão, são técnicos, já, no topo de carreira (assessores, assessores principais). A não ser que se pense que estes lugares, serão ocupados, com acrescidas, responsabilidades civis e criminais, ao fim de cinco anos de serviço. A maioria deles tem 20, 25 ou 30 anos de serviço. O que significa, estarem, desde logo, no topo da carreira técnica superior, onde o vencimento, nalguns casos, é superior ao vencimento atribuída à função de chefia. (A maioria são chefes, por favor).
O que vai resultar nesta redução de chefias é a duplicação da recessão já existente. Se hoje um processo leva 100 dias a estar concluído, passará a levar 300 dias para se concluir. O entupimento de processos nas câmaras municipais vai ser pior que o entupimento de processos nos tribunais.
Depois, lendo um pouco mais as notícias, ainda ficamos espantados, quando o critério para a determinação do número de chefias é pelo número de habitantes. Deve ter sido o critério adoptado para encontrar o número de Ministros, para o Governo…
No pouco tempo que este governo tem, o número de decisões de “poupança,” para quem sabia tão bem, onde cortar as gorduras do Estado, é de pasmar. São borradas atrás de borradas. Se há quem diga…”volta Salazar, que estás perdoado”, agora, também se pode dizer…”volta Sócrates, que estás perdoado”. Para fazer estas borradas, podíamos ter ficado com o Sócrates. Por um lado, já estávamos habituados a ter um Primeiro-Ministro que aumentava impostos e que também mentia, a dizer que não, só que não estávamos, era habituados, a que existem ministros que fizessem tantas borradas, em simultâneo, demonstrando uma incompetência, total. É uma verdadeira diarreia de ideias…que demonstra o completo desconhecimento das realidades.
O mesmo se tem passado, em relação às empresas municipais. O senhor Presidente de Câmara, de Vila Nova de Gaia, tem sido o orientador espiritual destas ideias. Engraçado, é que foi ele, o useiro e vezeiro na criação de empresas, porque, as mesmas, tinham como objectivo, distribuir, pelos senhores vereadores, as administrações, nas mesmas, para que pudessem auferir um melhor salário, do que tinham como Vereadores, aparecendo, agora, como o campeão das fusões de empresas e na defesa do encerramento, das mesmas. Os critérios, até agora, conhecidos, são os critérios de uma mera propaganda jornalística, mas cujos resultados, são imprevisíveis, para deitar fumo sobre a escalada de assaltos, aos bolsos dos portugueses, com um aumento brutal da carga fiscal e da redução de salários.
O critério para a existência de empresas municipais, ou não, deve estar assente, unicamente, numa análise, em que se possa saber se o serviço prestado pelas mesmas, obedece a melhores índices de eficiência, eficácia e economia ou não, comparativamente, com o mesmo serviço, prestado, directamente, pelas autarquias.
Este governo está pejado de académicos e de “funcionários” do partido que nunca tiveram experiência, nem empresarial, nem autárquica. A experiência detida, ou é a de dar umas “lições”, na universidade, ou a fazer “baixa política”, dentro dos partidos, à procura de um lugar ao sol. (Quantos não terão telefonado aos papás, a dizer…” Paizinho, já sou Ministro”.)
Mas, meus amigos, não há solução. Este caos de governação, ora PS, ora PSD, é o resultado do regime político, que temos, resguardado por um guarda- chuva, que é a actual Constituição da República. A geração, actualmente no poder, e não é só em Portugal, como em outros países da Europa, é o resultado de uma juventude que nunca fez nada na vida, a não ser jogadas partidárias, para subirem na hierarquia dos partidos. Antes das “novas oportunidades”, este meio de vida já era uma oportunidade, para quem sempre quis andar de costas direitas. Só se dobram para fazer borradas…