quinta-feira, 24 de abril de 2014

CARTA A UM AMIGO


 
 
Como sabes não te esquecemos. Pelo contrário. Hoje, decorrido um ano da tua prisão injusta, e da qual muito se tem falado, uma vez mais, estás, conjuntamente, com mais umas centenas a sofrer mais uma “pena”, a da sexta greve dos guardas prisionais, desde que acharam que devias ser o “bode expiatório” de uma justiça que só se aplica a alguns. E tu foste escolhido. E sabes bem porquê.
Neste período de greve de braços caídos, à qual o governo se está nas tintas, os mais prejudicados são os reclusos que se vêem privados de quase tudo. Até de um jornal… privados de fazer um telefonema à família, privados até do exercício diário, estando confinados às celas, 23 horas por dia. É de loucos. Eu sei que a maioria toma comprimidos para dormir, pois de outro modo, se calhar, a própria estabilidade e segurança do estabelecimento prisional estaria em causa. Compreendo a greve dos guardas prisionais e as suas revindicações, mas o governo está-se nas tintas. Não os afecta, directamente. Se ainda fosse uma manifestação no Marquês de Pombal, como foi a de um campeonato de futebol, talvez, perante problemas tão graves, como o sistema prisional em Portugal, o governo ouvisse. Já ponho, por agora, de fora, a miséria de cerca de dois milhões de portugueses, sem futuro e sujeitos a regras ditadas por funcionários da troika que nos envergonha a todos.
Porque és um homem de coração grande, que dedicou uma vida a fazer bem a quem precisava, e isso é claro e evidente, quando percorremos as ruas de Oeiras, e ao contrário de outros concelhos limítrofes de Lisboa, não encontramos nenhuma família a viver em barracas.
Proporcionaste dignidade a quem vivia em Oeiras. E isso os Oeirenses nunca esquecerão.
Lembras-te, do flagelo que era no inverno as cheias no Dafundo e Algés? Infelizmente foi preciso, deixares de ser Presidente da Câmara, para que este ano viéssemos a ter novamente cheias. Porque, e tu sabes bem que, não é só fazer obra, é preciso manter, principalmente, a limpeza dos cursos de água e esgotos.
No início do teu primeiro mandato, havia umas pensões em Oeiras. Hoje, Oeiras, pelo seu desenvolvimento, está dotado de várias cadeias de hotéis de grande categoria. Continuar esta obra, não é para arruaceiros e incultos. Só homens da tua craveira!
Mas, não foi para falar disto que te estou a escrever esta breves linhas, neste dia trágico da tua vida e da família e dos verdadeiros amigos que tens. Sim, porque, impostores também, tens muitos e isso não é preciso andar à procura. Basta olharmos para o lado.
Desculpa, não te poder visitar, dentro da minha prerrogativa de Advogado, para umas breves conversas que ajudam a passar o tempo e a não te sentires tão só. Até parece que somos irmãos…talvez. Mas, amigos somos de certeza!
Pediste para teres a prerrogativa de cumprires o restante da pena, com pulseira electrónica. Tiveste, uma vez mais azar. Outros, nem tanto! Nem vale a pena mencionar os nomes.
Mas, uma coisa é certa… Quem apreciou esta decisão ficou de boca aberta. O Tribunal de Execução de Penas indeferiu ignorando todo o teu comportamento irrepreensível no estabelecimento prisional.
Chegou ao cúmulo de afirmar que “há perigo de reincidência”, sem fundamentar com concretos factos e dados objectivos. Quando li isto, pensei e imaginei…saíres da prisão e ires directo a uma repartição de finanças cometer novo ilícito.
Eu já nem sei se a fuga ao fisco é feito à mão armada. Uma coisa eu tenho a certeza…é que os portugueses são assaltados pelo fisco à mão desarmada.
Até breve…