segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O PAÍS TEM PATRIOTAS

Mãezinha! Espero que te encontres bem.
Eu ainda não estou muito refeito, daquela cabazada, que o Manel levou nas presidenciais. Bem dizias tu, que era melhor eu não me meter nesta aventura. Agora, o Aníbal vai ficar chateado comigo e estou convencido que, antes do verão, me vai mandar às urtigas. E como eu detesto urtigas…fazem-me uma comichão, que nem sabes.
Mas, o Mário, nunca perdoou, ao Manel, este ter concorrido contra ele. E digo-te mais…se não fossem os votos do Bloco, então, é que eu não sei como é que seria.
Mas também não posso andar em cima de tudo…até parece que não existe mais ninguém no governo. O quê? Já ouviste dizer isto a alguém, mas foi há muitos anos? Lá vens tu outra vez com essas semelhanças…ou mãezinha, eu sou um social-democrata. Não te ponhas a comparar. O Adolfo também era socialista? Ou mãezinha, mas esse era nacional-socialista que é bastante diferente. Ainda que digam que tenho tiques de “narcisista” é como o outro, agora de ditador é que não, embora quem mande, naquela coisa, seja eu. Isso é verdade, mãezinha. É por essas e por outras, que nós, em Abril, vamos fazer um congresso. Que é para a malta, democraticamente, reconfirmar a minha pessoa como líder. Se vai aparecer alguém a contestar a minha liderança? Mãezinha? Nem se atrevem. Quem é que quer pegar nisto agora? Sim…diz-me lá?
Não te preocupes, mãezinha. Se houver eleições, não é seguro que o Coelho ganhe as mesmas. Ah, o Bloco de Esquerda não vai votar em nós? Claro que não, mãezinha. Isso foi só para o Manel. Agora, quando se trate de garantir lugares na Assembleia é cada um por si. Já estavas a ver uma aliança? Nem penses nisso! Amigos, amigos, negócios à parte.
O quê? Aquela lei do Orçamento de Estado que reduz os vencimentos dos funcionários públicos é arbitrária? Mãezinha: verifica-se, com efeito, que a redução dos vencimentos, tal como se encontra delineada e prevista no artigo 19, nº 9, e do artigo 21 da Lei do Orçamento do Estado, viola o princípio da igualdade, numa tripla acepção: (a) Viola a igualdade na repartição dos encargos públicos; (b) Introduz uma discriminação infundada entre trabalhadores públicos e privados com remunerações mensais superiores a mil e quinhentos euros; (c) Contraria a igualdade formal perante a lei do mesmo nível de garantia da remuneração de todos os trabalhadores e do grau de intervenção dispositiva das entidades empregadoras.
Trata-se, nestes termos, de uma solução legislativa discriminatória e até atentatória da pura igualdade formal; é arbitrária.
Mas quem é que se vai ralar com isso, mãezinha? Toda a gente sabe que quem manda, sou eu. Qual Tribunal Constitucional, qual carapuça. Nem penses nisso. Essa malta sabe que estão lá, porque fomos nós a pô-los lá. É preferível garantir o que estão a ganhar, do que ficarem sem o lugar. O país precisa de patriotas. E eles são-no, sem dúvida!
Fica descansada que isto vai correr tudo bem! Logo que possa, volto a dar notícias. Agora, tenho de ir vender, mais um bocado da nossa, dívida pública.

“Dulce et decorum est pro patria mori.” Doce e honroso é morrer pela pátria. — (Horácio)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A sorte que cada um tem na vida…

Todos nós, por vezes, pensamos porque não havemos de ter melhor sorte. A sorte por um lado acontece, por outro, somos nós que a construímos. Andamos uma vida inteira à procura de melhor sorte.
Sou da opinião que nos temos de contentar com a sorte que temos, procurando, obter a melhor sorte do que pode estar à nossa mão.
Começa a nossa sorte, logo quando nascemos, em função da família que temos. Uns nascem filhos de pais ricos e têm a sorte, outros têm de trabalhar uma vida inteira à procura de melhor sorte. Mas, pode-se olhar por outro prisma…não nascemos numa família de pais ricos, mas nascemos numa família com afectos. Já temos sorte. Porque há quem nasça, que nem sequer conhece a família. Quantos nem sabem quem é o pai ou a mãe. Logo, nem são ricos em termos materiais, nem em afectos.
Depois vamos crescendo, vamos fazendo amigos e alguns de nós, tem a sorte de fazer amigos que nos acompanham por toda a vida. Mas há, os que não têm essa sorte. Ou, porque não foram capazes de fazer amigos ou, por qualquer eventualidade, perdem os amigos.
Quando se chega a adulto, voltam novas oportunidades de se fazerem amigos. Uns são amigos, outros não. A vida adulta é um pouco mais complexa do que a vida em criança. O modo de fazermos amigos, os locais onde temos os amigos e, porque é que fazemos “amigos”.
Entretanto, surge a oportunidade de se criar a própria família. Uns têm a sorte de criar família, outros não. Hoje, existem novas oportunidades de fazer amigos…as redes sociais. Mas, o cerne da questão é que o interesse em fazer amigos, subjaz, sempre, o mesmo. Por isso costumamos dizer que há amigos e amigos. Melhor, queremos dizer que há amigos no sentido lato, porque na realidade podem-se contar pelos dedos de uma mão, os nossos amigos.
No decorrer deste tempo vão-se tendo experiências, mais traumatizantes ou não, conforme o tipo de “amigos," que vamos encontrando. Uns por isto, outros por aquilo. Uma coisa é certa…é que quando “parte” um amigo, não haverá quem deixe de dizer, sempre, “era um bom tipo”. Por vezes, até nos emocionamos, porque, por vezes, a morte mete-nos medo. Quantas das vezes, não é este o momento em que se reflecte a nossa própria vida. Ou não é?
E assim, os anos vão passando, vamos fazendo novos amigos, vamos tendo desilusões, porque acreditamos sempre que este amigo é mesmo amigo. Parece uma redundância, mas não pode ser dito de outro modo. Este tema surgiu, porque, ontem pela noite, ao consultar a “Pordata”, a melhor base de dados que conheço em Portugal, deparei-me com o seguinte: em Portugal, viviam sozinhos, em 2009, 43.891 homens e 288.878 mulheres.
Bom este número a frio, faz pensar no seguinte: se as pessoas vivem sozinhas, ao menos têm amigos? Porque na realidade, não me parece, atendendo à idade de muitos deles, que estejam embrenhados, nas redes sociais. Por detrás de cada um destes números, está uma história de vida. De família ou famílias, de amigos que se perderam, de amigos que se foram fazendo ao longo da vida, mas o certo é que as pessoas vivem sozinhas. Creio que alguém terá dito que “nasce-se sozinho e morre-se sozinho”. Faltou dizer que se vive sozinho! Sinceramente, já não me lembro o quanto sozinho estava quando nasci. Mas não sei, o quanto sozinho estarei quando partir. Mas, felizmente, tenho amigos. Alguns estão na rede social. Mas não foi aí que fiz os meus amigos, que prezo e tento estimar. Da minha parte, direi que nasci sozinho, morrerei, eventualmente sozinho, mas vivi lado a lado e bem acompanhado, por todos os meus amigos. Portanto, tratem-me bem que eu vou fazendo o mesmo por vocês. Se mais não bastasse, sou um homem de sorte, porque tenho o vosso afecto. Assim seja, com todos aqueles que vivem sozinhos e se encontram na estatística que mencionei e que me impressionou e que me motivou a escrever sobre este tema. A sorte que cada um tem na vida…é não viver sozinho e ter amigos.
"Amicus verus, rara avis". [DAPR 61] Amigo verdadeiro é ave rara.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Resultados Eleições Presidenciais 2011, em Portugal

Decorreu mais um acto eleitoral, num período demasiado conturbado do país. Uma economia de rastos e uma situação financeira deplorável, aliado a uma descrença total, na classe política que só tem, ela própria, originado essa mesma descrença, com os escândalos repetidos, de norte a sul do país, na que podemos chamar de “auto governação” (meter ao bolso).
Aníbal Cavaco Silva ganha as eleições, com 52,94% dos votos expressos, quando a abstenção se cifrou em 53,57%. Independentemente de mais um fracasso clamoroso do governo, com a implementação do cartão de cidadão, que neste ponto de vista é um completo fracasso, diria eu, aliás, como tudo o que tem feito até agora, a realidade é que não abona em nada a democracia, alguém ser eleito, num panorama de mais de cinquenta por cento de abstenções.
Os votos brancos foram mais um candidato…se olhar para a votação que obteve José Manuel Coelho…4,5%, quando, os mesmos se cifraram em 4,26%.
Continuam os políticos, em geral, a dizer que está tudo bem no mundo da política…o regime recomenda-se. Não me parece que assim seja, independentemente destes resultados. O regime político já está doente de morte, vai para alguns anos e isso observa-se no descalabro económico e financeiro em que se encontra o país, antes de o verificarmos nas eleições.
Além do mais, esta campanha eleitoral caracterizou-se, por uma mão cheia de nada. Nunca tantos candidatos falaram tão pouco. Um vazio completo que veio agravar a desmobilização que mais de cinquenta por cento do eleitorado manifestou.
Para terminar esta desgraça, assistimos, como sempre, no discurso final, à vitória de todos os candidatos, menos de Manuel Alegre, que assumiu claramente a derrota. Honra lhe seja feita. Foi bastante pior, a sua performance, do que nas últimas eleições, em que concorreu desvinculado do PS. O que me diz que uma boa quantidade de socialistas, foram votar Fernando Nobre. Parece-me que o “homem” forte do partido se fez sentir. Como se diz, a vingança serve-se fria.
Hoje, amanhã e depois, tudo vai continuar na mesma. Já se começa a perfilar a alternância do poder. E os portugueses de eleição em eleição, lá vão sendo esmagados, cada vez mais, mergulhados numa crise sem precedentes. Porque quem diz que já estivemos assim, e que demos a volta por cima, esquece-se de dizer, na sua vontade de “animar a malta”, que já nem anéis temos nos dedos.
Antes de se mudar o regime moribundo, há que mudar, rapidamente, de actores da cena política. E isso, não me parece que nenhum partido o queira fazer. Porque nessa altura, pensam eles, que teriam de governar o país, em vez de se governarem a eles próprios.
“Gratis paenitet esse probum.” [Ovídio, Ex Ponto 2.3.14] Dá arrependimento ser honesto sem proveito.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A FÁBULA DO LEÃO E DO COELHO

Era uma vez um coelho que tinha domesticado um leão.
O coelho varria o capim e o leão protegia o coelho, do assalto, dos depredadores. Caçava ali e acolá, na expectativa de comer, os despojos da vítima. Foi engordando à custa das presas, levantadas pelo coelho, conforme este ia comendo o capim. É óbvio que o coelho andava gordo e anafado e mal conseguia correr. Até que passou a andar escondido debaixo do capim. O leão, ao ver o coelho tão gordo e anafado, pensou que podia também engordar. E disse para ele: “tenho de conseguir ficar tão gordo que não precise mais de caçar na vida”.
E começou a querer caçar sozinho. Na primeira tentativa, teve azar. Houve uma águia de olhar aguçado, que se adiantou ao leão e deu-lhe uma derrota de arrasar. Ainda por cima, o adversário distraiu o leão, ao colocar no campo, uma fêmea com prestígio, inteligente e simpática que atraiu a multidão, que se ofereceu de livre vontade, pois sabia que não estavam a ser enganados. Derrota que o leão nunca conseguiu “digerir”, pois estava habituado a caçar na sombra do coelho e nunca pensou que tivesse tão pouca habilidade, para caçar sozinho.
Caçar como “independente”.
Passou a ser um leão rezingão, mal-humorado, pois teve sempre mau perder. Dos beijinhos e abraços, passou a rosnar, como se todos tivessem medo de um leão esfomeado e zangado. Ele de facto não estava magro, pois à custa do coelho, também tinha engordado. Mas faltava-lhe, o título e o prestígio de rei da selva, para ter a fama que a gordura não lhe dava.
E assim, o leão, organizou um grupo de pontapé na bola, contratando “Maradonas”, não se sabe bem como, e anda, o tempo todo, a olhar o seu reflexo na água, como aconteceu ao “Narciso”. Esperemos, é que não morra afogado.
“Angustus animus est, quem terrena delectant.” [Sêneca, Ad Helviam 9.2] É uma mente estreita aquela a quem as coisas terrenas dão prazer.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

MÃEZINHA! ISTO VAI DE “MAO PARA PIAO”!

Mãezinha espero que te encontres bem.
Tê filho tem andado a fazer um esforço, tremendo, para que esta coisa não destrambelhe ainda mais.
Fica descansada que até Maio é que vamos ter de trabalhar para pagar as contas ao Estado. Depois de Maio já pudemos gastar, outra vez, à vilanagem.
Porquê até Maio? Mãezinha é simples. O Estado, que somos todos nós, mais os que vão pagar, esta conta calada, temos de desembolsar mais de 34 mil milhões de euros este ano, o que dará mais ao menos, cerca de 3.240 euros por freguês. Não, mãezinha! Os que ganham menos pagam menos e os que ganham mais, pagam mais. Portanto, nós estamos safos, mais a rapaziada que tem aqueles rendimentos de trabalho ou não, que não são declarados. Também se houver alguma coisa mais para se receber, a rapaziada continua a contar com os “offshore`s” para receber essa massa e o Teixeira não consegue saber nada.
Por exemplo, a electricidade, a malta ou está a utilizar a lareira ou iluminar-se com “velas”. A malta já só liga a televisão, para ver os “Prós e Contras” e isso é à segunda-feira. Portanto, quando vêm a conta da electricidade, acabam por dizer que é poucochinho pois só vêem o custo da “Taxa de Exploração”-0,14€, a “Contribuição Audiovisual”-3,50€ e a “Taxa do IVA” que é de 2,81€, para uma factura de 52,02€. Ou seja, a malta, ao fim e ao cabo, tirando os lucros da EDP (esses não contam), o pessoal nestes impostos, só alarga os cordões à bolsa, em 12,66% do total da factura. Mãezinha, não digam que é caro, porque não é. Eu sei, mãezinha, que o futuro Presidente da República, quando foi Primeiro-Ministro, tinha retirado a “Taxa do Audiovisual”. Mas os tempos são outros. Mas os condomínios, da luz da escada e dos elevadores, também pagam? Claro, mãezinha. Ou pagam todos ou não há moralidade!
Afinal, os impostos que os portugueses pagam, também não são assim tantos, mãezinha. Temos o IRS, que há em todo o lado. É ou não? Temos o IRC, para as malandras das empresas que produzem alguma coisa, neste país. Ah, os bancos? Mãezinha… esses, temos que os tratar com miminhos! Lembras-te? Eles são amigos do alheio, como nós, afinal! Depois temos o IVA. Ora bem…consumidor, pagador…e não vai ficar por aqui. Quando “eles vierem” (aliás já chegaram, não digas nada), ainda vai subir mais um pouquito. Ah, o imposto de selo? Oh, mãezinha…esse imposto é só sobre a despesa e sobre o património, ou seja, todos os actos, contratos ou documentos (até transmissão gratuita de bens). Vais comprar mais algum apartamento? Não vais, pois não? Então não sei porque perguntas. Esse é que não pôde deixar de pagar…o IMI. Quem tem casa, paga uma pequena renda todos os anos, para ter a casa naquele sítio. Tem que ser, mãezinha. Estão a ocupar espaço, a poluir, os esgotos…sim os esgotos, mas isso é outra coisa. Agora, não me disperses, porque às duas por três estou a meter os pés pelas mãos. Só se fosses comprar mais um apartamento, é que tinhas de pagar o IMT. Como andas de transportes públicos, não pagas o ISP. E se quiseres andar de popó, compras um, a pilhas. Não há ainda a pilhas, só baterias? Então é isso, a bateria. São mais económicos e não poluem. Olha, vê tu, se não tivessemos acabado com a maioria da indústria, como era agora com aquela coisa do Quioto? Estávamos tramados. Essa foi mais uma das vitórias do PS e minha, que ninguém compreende. E quer tu quer eu, já não fumamos, portanto, não temos de pagar o IT, imposto sobre o tabaco. Como só bebemos chá, não pagamos, também, o IABA, imposto sobre o álcool. Já o ISV e o IUC, imposto por quem compra carro e mais o imposto de circulação, como tu não tens carro e eu ando no carro de todos os portugueses, não temos de pagar. Eu sei, mãezinha, que há outros que têm de pagar…mas é justo. Compra, paga. Não compra, não paga. Andem nos transportes públicos que são bons e baratos. Já não são, mãezinha? Então? Ah, é que tirando as empresas do Estado que dão sempre prejuízo, as privadas também pagam impostos, estes que eu venho a falar? Não sabia, mãezinha! As outras taxas pequeninas, que mal se sentem, e que vêm agora, como a menstruação, todos os meses, são a água, a taxa de recolha de lixo, a taxa de disponibilidade de água. Eu ainda estou a ver os tipos da EDP, um dia, a criarem a taxa da disponibilidade do vento, por causa da energia eólica. A seguir, vem a rapaziada dos painéis solares, cobrar a taxa de disponibilidade do sol. Só que depois nos dias encobertos, continua-se a pagar. É como nas auto -estradas. Mesmo quando estão em obras, meses e meses a fio, continuamos a pagar, como se estivéssemos a “gozar”, da disponibilidade das mesmas.
Mãezinha, podíamos estar para aqui, a falar e a falar sobre esta coisa dos impostos e etc., mas não tenho mais tempo disponível. Tenho de ir telefonar ao meu amigo “Hugo Chaves”, por causa daquele negócio dos chineses. Sim, porque ou os países da América Latina, investem aqui um pouco mais, ou os Chineses compram isto tudo. E depois é que vai ser o delas a pagar impostos. Olha, mãezinha…isto vai de “Mao para Piao”.
Beijinhos deste tê filho, que estava repleto de saudades, destas conversas, animadoras.
“Memoria minuitur, nisi eam exerceas.” [Cícero, De Senectute 7] A memória diminui, se não a exercitas.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

E ASSIM VAI, ESTE PAÍS!

Quem pensar em ter filhos em 2011, esqueça. Só a partir de 2012. É que cada bebé que nasça em 2011, só estará livre dos encargos das PPP, daqui a 72 anos.
Este é a caixa alta de uma notícia de um jornal. Para nos dizer, um pouco mais à frente, que as despesas com as parcerias público -privadas (PPP), ascendem a 48 mil milhões de euros.
Ora, coloca-se uma questão pertinente…se para equilibrar as contas públicas, o governo tem de reduzir os salários, porque não reduz com os seus fornecedores, a dívida?
E se começasse pelos encargos das PPP, que só alguns sabem como foram negociadas, de 48 mil milhões, dez por cento, o equivalente à descida dos salários, o governo podia aferrolhar, qualquer coisa, como quase 5 mil milhões de euros. Nada mau, pois já contrabalançava o dinheiro que a rapaziada meteu no BPN. Ou não?
Mas, não. Os negócios ruinosos que os diversos governos têm vindo a fazer são intocáveis. Será por alguma razão? É que me parece que a “alteração das circunstâncias” deve permitir que o governo venha a renegociar os diversos contratos que tem vindo a fazer. Ou será que as alterações das circunstâncias só se colocam perante a “massa” anónima de portugueses que vão sendo espoliados dos seus rendimentos de trabalho? Algum economista já conseguiu medir o impacto que estas medidas do governo vão ter na produtividade da Nação? Penso bem que não, porque a lógica tem sido sempre a de olhar para as contas públicas numa óptica financeira e não numa óptica económica. Satisfez-se as necessidades das empresas e dos bancos e o “Zé” que se amanhe. Só que tenho dúvidas, perante a pressão financeira que tem sido exercida sobre Portugal, se os próprios bancos não vão sofrer com a situação, reduzindo substancialmente o valor das suas acções, bem como a dificuldade de obtenção de empréstimos nas praças estrangeiras que irão condicionar a sua própria actividade – a possibilidade de continuarem a vender dinheiro. A relação entre os juros externos e os internos colocarão todas as operações inviáveis.
Logo, continuará a sobrar para a rapaziada que quer comprar casa e não obtém empréstimo ou tem alguma outra necessidade urgente e não consegue capitalizar-se junto da banca.
Resta-nos a intervenção do FMI e de um modo ainda mais doloroso, pois não ficaremos pelos dez por cento de redução no salário, mas uma redução que chegará aos 20%, nalguns casos. Mas, continuará a ser sobre a população que trabalha directa ou indirectamente com a administração pública. Haverá sempre excepções, eu sei. Haverá algumas particularidades, na administração pública que poderão beneficiar, sempre, de aumentos significativos de vencimentos e com efeitos retroactivos.
E assim vai, este país! Não se trata já de governantes…trata-se de alterar, urgentemente o regime político! E não o sistema…pois este, também, faliu!
“Mobile mutatur semper cum principe vulgus.” [Claudiano, De Quarto Consulatu 302] A multidão inconstante muda sempre com o governante.

sábado, 8 de janeiro de 2011

As expectativas e a vida

Todos nós gostamos de criar muitas expectativas. Expectativas sobre alguém, sobre algo, sobre o nosso futuro, sobre o futuro dos nossos filhos,etc.
Sou suficientemente humilde, para admitir que, também, falho, por vezes, nas expectativas que coloco. Embora, cada vez menos, pois a idade vai-nos dando a experiência necessária, para que não criemos expectativas demasiado elevadas ou utópicas. Quando tal acontece e as expectativas saem goradas, logo a seguir, vem a fustração.
Não seria um pouco mais fácil, em vez de criarmos expectativas, deixarmos as coisas correrem, indo medindo a performance das coisas? É que ao criarem-se expectativas elevadas, temos o impulso, incontrolável, de comandar as operações, de modo que nada falhe, em relação às expectativas criadas, e passamos a ter medo do inseguro, e damo-nos a procurar planear os acontecimentos. Se algo acontece diferente, logo, pensamos que está tudo a ir por água abaixo e começa o nosso sofrimento.
É importante e mais saudável, termos a consciência que o controlo dos acontecimentos, está sujeito às mais diversas vicissitudes, umas endógenas, outras exógenas, e que não temos possibilidade de as controlar, assumindo responsabilidades, para as quais não temos capacidade e muitas das vezes, não temos competência para as mesmas. Acredito que seria mais saudável e menos doloroso, se nos consciencializássemos destes factos.
Já no amor, quando vamos à procura de expectaticas, de algo que sempre gostámos de idealizar no outro, existe dificuldade de se analisar o outro, como ele mesmo é. Acredito que grande parte das pessoas não gostam do verdadeiro, do real, do simples… no fundo… não é fácil escrever isto, mas o misterioso, o irreal, o que planeamos é o que queremos. Não aceitamos o que é, não aceitamos quem somos ou o que as pessoas são, mas sim o queremos que fosse, o que queremos que sejamos e o que queremos que as pessoas sejam.
E o pior é que quando isto se ressalta no amor, aí, depois, geralmente questiona-se: Mas fulano e fulana não era assim, mudou de repente… era assim com toda certeza, mas não se reparou.
Hoje em dia temos uma cultura que favorece muito a questão da paixão, do sexo, e muito pouco do que se deveria dizer do que é o amor. Em linhas gerais e relembrando um post antigo, considero que o que reflecte melhor esta dicotomia, é a visão grega de amor e paixão. Paixão é quando se busca o preenchimento no outro e amor, quando se busca complementaridade.
Quando estamos apaixonados queremos que o outro supra as nossas faltas, sejam de qualidades ou defeitos, ou porque, nos apaixonamos, fisicamente, etc.
Porém o amor é algo que se complementa. Nós já somos o bastante, mas o outro quer ser mais do que isso. Nós damos 50% e a outra pessoa 50% e assim, procura-se a existência de uma relação equilibrada.
Só que agora vem a grande questão: Se as nossas questões não são com o que somos, não são com coisas reais, mas projectadas, como poderemos ter uma relação realmente estável? Isto, eu acredito que é uma pergunta difícil de responder.
Pessoalmente acredito que é uma questão pessoal. Porque, afinal, devemos trabalhar, internamente, para estarmos amadurecidos, não só para um relacionamento estável , mas também, para a própria vida. Significa que quando nos descobrimos como pessoa, quando estamos bem, com o que somos, é que começamos a ver o que de facto é a vida. Quando os olhos se nos abrem a essa grande maravilha, que é a felicidade, o amor, a amizade, a família, estes, são um só. Tudo está em sintonia, sincronia, não existe mistério, mas sim um despertar da consciência.
“Amantes libenter credunt quod optant.” Os homens enamorados acreditam de bom grado naquilo que desejam.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

TENHAMOS ESPERANÇA

Todos nós temos os nossos problemas, que algumas das vezes, estão agarrados aos problemas colocados pelos outros.
Não bastando isso, se formos dar uma vista de olhos pelos jornais, deparamo-nos com um cenário, completamente deprimente.
Hoje, um dos jornais trazia na sua primeira página, em caixa alta, o seguinte título: “GUERRA DE SALÁRIOS ENTOPE TRIBUNAIS”. Não deixava de ter a sua piada se os tribunais não estivessem já entupidos. Também o Governo sabe disto. Uma das razões, porque se está nas tintas para o facto. Está o Governo, como estão a maioria das pessoas que gostam de andar fora do corredor da justiça. Porque sabem que os tribunais estão entupidos. Depois, ainda nos perguntamos, porque razão não há investimento estrangeiro, em Portugal.
Mas, há algum investidor que venha investir num país, onde os casos que tenham de ser dirimidos em tribunal levem anos e anos? Não me parece. Com esta noticia quer dizer o jornal que a “Função Pública Contesta Cortes”. A função pública e não só, porque ao atingir, todo o universo empresarial do estado, a contestação se faz ouvir. Só não haverá “cortes”, nas empresas em que o Estado é detentor de “Golden Shares”, porque não são enquadráveis como empresas do Estado. Ah, mas se for uma empresa do universo das autarquias, já faz. Embora, sejam lucrativas ou não. Como se nestas se pagassem os mesmos ordenados ou comparado, com o que se paga na Galp ou na Telecom.
Mas deixemos isso, e vamos fazer este pequeno raciocino…imaginemos um casal em que ele seja quadro de uma empresa em que ganha cerca de 3.000 euros/mês. Ela, como médica, já com mais de trinta anos de serviço, ganha 4.000 euros. Estamos a falar, na actualidade de um rendimento ilíquido de cerca de 7.000/mês. Com os cortes, este rendimento sofrerá uma redução de cerca de 650 euros. Ou seja, quase 10% do actual rendimento ilíquido. Ah, mas não é só o efeito da redução salarial, estamos depois a falar da redução da contribuição para uma futura reforma. São estas constantes alterações das “circunstâncias” que este Governo nos tem habituado, vai para 7 anos que tem conduzido o país ao estado em que está. Porque não tenhamos dúvidas, que além do impacto financeiro, estas medidas trarão impacto na produtividade. Não se podem exigir de ninguém que não fique desmotivado, com todas estas situações.
Mas, poderíamos ficar aqui por esta notícia. Mas não! Logo, a seguir, temos a segunda página a dizer…”CORTES PARAM JUSTIÇA”. Bom! Como se a justiça já andasse bem, verificamos que a inconstitucionalidade e nalguns casos previstos na lei, a ilegalidade, vai contribuir para travar o andamento dos tribunais. Não sei se vingança ou retaliação por tudo isto, o jornal logo adianta que “SUPERJUIZ NÃO VAI DESTRUIR ESCUTAS DE SÓCRATES”. Para apimentar esta, segue outra com o título:
“CORRUPÇÃO TORNOU PAÍS MAIS POBRE”.
Eu, que estou aqui do outro lado, e sou um ignorante… sou levado a concluir que é por causa das escutas, nos casos de corrupção que os salários vão ser reduzidos. Será?
Mas, continuando a percorrer o jornal, logo nos deparamos com outra caixa alta que diz: “CRIME ORGANIZADO ESTÁ A CRESCER”. Ora, esta é fácil…se os salários vão reduzir, se o desemprego tem vindo a aumentar, é normal que o crime esteja a crescer. Mas, o crime organizado, como se a corrupção não fosse um crime onde lideram as organizações. E normalmente estão associadas ao financiamento dos partidos políticos. Ainda me recordo dos últimos casos mencionados na comunicação social e tenho presente a nova lei do financiamento dos partidos. Estes sim são parte integrante da desgraça em que está o país.
É que nem os “bifes” escapam. Não é que assaltaram a “Portugália”? É o que diz a notícia. “Gang Sequestra para Assaltar Portugália”. Quer dizer, que não bastavam os “gangs" a assaltar Portugal ainda temos um gang a assaltar a “Portugália”? Já nem a carne de vaca se safa, no meio desta pocilga.
Ah, mas parece que não há crise…segundo dizem alguns. Que é desmentido pela caixa alta, que diz “CARÊNCIA SOCIAL ENCHE URGÊNCIAS”. Ou seja, quem não pode utilizar os gangs como forma de sobrevivência, neste caso os idosos, pela falta de dinheiro para comprar medicamentos, tentam refugiar-se nas farmácias dos hospitais ou minimizar a sua dor, indo ao Hospital.
Foi este o país que se tem vindo a destruir, nos últimos anos de governação, onde o “narcisismo” e o clientelismo têm sido a pedra de toque.
Bom…não leiam os jornais, porque se já têm problemas na vida, ficam completamente deprimidos. Tenham coragem, porque este país já esteve na merda várias vezes e conseguiu reerguer-se. Tenhamos esperança!
“Multos in summa pericula misit venturi timor ipse mali.” [Lucano, Bellum Civile 7.104] O próprio medo de males futuros colocou muitos homens em grandes perigos.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

É PÁ…SOU O MELHOR DA MINHA RUA

A demagogia é uma das consequências da democracia.
Principalmente, quando são ignorantes, as pessoas que estão à frente das instituições. Porque a ignorância é atrevida.
Imaginemos que uma instituição tem mais ou menos 2.000 sócios. Existe um acto eleitoral, com uma só lista (até parece a União Nacional) e votam pouco mais de 60 sócios. Ora, isto dá uma percentagem de cerca de 3% dos sócios votantes. Como é que alguém pode, arvorar para si, que o referido acto eleitoral é algo de expressivo?
Se é feita a propaganda de que a instituição, possui toda esta catrefada de sócios e estes não votam é porque não acreditam nas pessoas que constituem a lista única. Ou, então, tal como na União Nacional, encaram o acto eleitoral, como um
“plebiscito”.
Salvo melhor opinião, estes números retratam um completo desinteresse dos sócios pela instituição, o que, a alguém que fosse sério, preocuparia de certeza.
Instituições que vivem com dinheiro do erário público deveriam ser vigiadas. Até que ponto é que instituições que são dirigidas por uma direcção eleita por 3% ou 4% dos sócios podem ser transparentes?
O facto de não se ter prejuízos, não significa que os dinheiros públicos sejam utilizados de modo adequado, com eficácia e de modo eficiente. E que todos os negócios sejam transparentes.
Muitas das vezes, nestas instituições, personalizadas, se as entidades que atribuem subsídios quiserem verificar as decisões das direcções, nem actas de reuniões existem.
Logo, concerteza, existirão “contratos”, que são do completo desconhecimento dos restantes directores e dos sócios, em geral. E quem sabe, se algumas decisões, não ultrapassam as competências de uma direcção e não teriam que ser propostas e votadas em Assembleia de Sócios? Logo, ilegais!
Se fosse presidente de uma instituição, em que só 3% ou 4% dos sócios é que votavam, nunca assumiria o cargo, pois, de modo nenhum me sentiria à vontade, para “comandar” uma instituição, em que os próprios sócios, de uma forma expressiva, me não tivessem elegido.
Nunca encararia o assumir de um lugar, numa direcção, por mero “narcisismo”. Se o fizesse, pediria ajuda a um amigo, para que este me recomendasse um psiquiatra.
E depois de curado, procuraria pôr de lado a “mania das grandezas” e ir junto dos sócios e envolvê-los, na vida da instituição. Porque não basta, ter-se boas instalações, pagas com dinheiros públicos, para que se possa dizer que se é o melhor do mundo.
Melhor dizendo, da freguesia.
Tal como se dizia…”é pá, sou o melhor da minha rua”, porque não há lá mais ninguém!

“Malis mala succedunt”. [Erasmo, Adagia 3.9.97] ■Males a males sucedem.

sábado, 1 de janeiro de 2011

AO MEU QUERIDO PAI




Quantas vezes penso em ti
No mesmo silêncio com que partiste.
Ainda vivem em mim,
As últimas palavras que te ouvi.
Como se estivesses a agradecer-me,
O que tentava fazer por ti.

Meu Pai, querido!
Não tive tempo de te dizer
O que tentei para ti
Recebi eu, tanta vez, em silêncio…
O amor que tinhas por mim.

Aqueles livros que lias,
Depois do jantar.
Ao teu colo…
Como eu fui feliz…

Nunca, nada me pediste.
A não ser que fosse feliz.
Acredita,meu Pai,
Que o tento ser,por ti!

Mais um Ano Novo se vai iniciar.
E, como não podia deixar de ser,
É com muita saudade.
De mais um aniversário, que tu,
Neste primeiro dia de Janeiro, farias.

Não te esqueço!
Porque a tua recordação,
Embora me encha de saudade,
Dá-me ânimo, para viver a felicidade.
Aquela que sempre quiseste para mim!


"Pater, in manus tuas commendo spiritum meum." [Vulgata, Lucas 23.46] Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito.