segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O PAÍS TEM PATRIOTAS

Mãezinha! Espero que te encontres bem.
Eu ainda não estou muito refeito, daquela cabazada, que o Manel levou nas presidenciais. Bem dizias tu, que era melhor eu não me meter nesta aventura. Agora, o Aníbal vai ficar chateado comigo e estou convencido que, antes do verão, me vai mandar às urtigas. E como eu detesto urtigas…fazem-me uma comichão, que nem sabes.
Mas, o Mário, nunca perdoou, ao Manel, este ter concorrido contra ele. E digo-te mais…se não fossem os votos do Bloco, então, é que eu não sei como é que seria.
Mas também não posso andar em cima de tudo…até parece que não existe mais ninguém no governo. O quê? Já ouviste dizer isto a alguém, mas foi há muitos anos? Lá vens tu outra vez com essas semelhanças…ou mãezinha, eu sou um social-democrata. Não te ponhas a comparar. O Adolfo também era socialista? Ou mãezinha, mas esse era nacional-socialista que é bastante diferente. Ainda que digam que tenho tiques de “narcisista” é como o outro, agora de ditador é que não, embora quem mande, naquela coisa, seja eu. Isso é verdade, mãezinha. É por essas e por outras, que nós, em Abril, vamos fazer um congresso. Que é para a malta, democraticamente, reconfirmar a minha pessoa como líder. Se vai aparecer alguém a contestar a minha liderança? Mãezinha? Nem se atrevem. Quem é que quer pegar nisto agora? Sim…diz-me lá?
Não te preocupes, mãezinha. Se houver eleições, não é seguro que o Coelho ganhe as mesmas. Ah, o Bloco de Esquerda não vai votar em nós? Claro que não, mãezinha. Isso foi só para o Manel. Agora, quando se trate de garantir lugares na Assembleia é cada um por si. Já estavas a ver uma aliança? Nem penses nisso! Amigos, amigos, negócios à parte.
O quê? Aquela lei do Orçamento de Estado que reduz os vencimentos dos funcionários públicos é arbitrária? Mãezinha: verifica-se, com efeito, que a redução dos vencimentos, tal como se encontra delineada e prevista no artigo 19, nº 9, e do artigo 21 da Lei do Orçamento do Estado, viola o princípio da igualdade, numa tripla acepção: (a) Viola a igualdade na repartição dos encargos públicos; (b) Introduz uma discriminação infundada entre trabalhadores públicos e privados com remunerações mensais superiores a mil e quinhentos euros; (c) Contraria a igualdade formal perante a lei do mesmo nível de garantia da remuneração de todos os trabalhadores e do grau de intervenção dispositiva das entidades empregadoras.
Trata-se, nestes termos, de uma solução legislativa discriminatória e até atentatória da pura igualdade formal; é arbitrária.
Mas quem é que se vai ralar com isso, mãezinha? Toda a gente sabe que quem manda, sou eu. Qual Tribunal Constitucional, qual carapuça. Nem penses nisso. Essa malta sabe que estão lá, porque fomos nós a pô-los lá. É preferível garantir o que estão a ganhar, do que ficarem sem o lugar. O país precisa de patriotas. E eles são-no, sem dúvida!
Fica descansada que isto vai correr tudo bem! Logo que possa, volto a dar notícias. Agora, tenho de ir vender, mais um bocado da nossa, dívida pública.

“Dulce et decorum est pro patria mori.” Doce e honroso é morrer pela pátria. — (Horácio)

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