sábado, 5 de julho de 2014

PENSAMENTOS SOBRE A HIPOCRISIA


Num pensamento de Giampaolo Rugarli este dizia que a  lei é sombra, púdica e hipócrita, do desejo de vingança da sociedade. Se, por uma razão ou por outra, as paixões se condensam, os ódios se acendem, deve-se aplacá-los, aquietá-los, acalmá-los. Desafogar o aborrecimento sem exceder. Os tribunais são os lugares decentes da vingança. Não para encaminhá-la ao alvo correcto, mas para impedir que ocorram movimentos perigosos...
Nestes tempos de hipocrisia, muitas frases soltas, mas elaboradas, com a profundidade necessária, para que cada um de nós se liberte de problemas de consciência e porque, muitos de nós, queremos agradar a gregos e a troianos, somos egoísta e egocêntricos, utilizamos as redes sociais para manifestarmos, muitas das vezes, de barriga cheia, aquilo que nos atormenta no subconsciente.
“Não culpe as pessoas por decepciona-lo, aceite que é sua culpa esperar demais deles”.
Deste modo, tenta-se colocar no outro a ideia que a culpa é sua. “Nós não temos nada a ver com isso”. Parece que deixámos de viver em sociedade. Não interagimos. O que nos acontece nada tem a ver com os outros.
Acredito que mais do que em qualquer outra época, mesmo levando em conta épocas onde a aristocracia e o clero faziam e desfaziam suas vanidades ao vento, que esta é a época onde a mentira mais tem sido despudoradamente maquiada; a época da mentira consciente.
Gritamos aos quatro cantos que somos livres, mas tenho certeza que só um imbecil, no sentido “strictu sensu”, pode realmente acreditar que seja livre. Só mesmo num estágio de entropia avançado se pode pincelar uma tela que valida tais valores.
Procuras recompensas ou foges de castigos, mas a verdade é que ambos são consequência das tuas escolhas.”
São pinceladas como esta, repetidamente colocadas nos mais diversos lugares, que vão procurando branquear a consciência de cada um de nós. Este branqueamento existiu em todos os regimes políticos. No fascista, no comunista e por maioria de razão, na democracia, pois não estando demonstrado que este seja o melhor sistema politico, tudo o que possa justificar a demissão dos outros na sua quota parte de responsabilidade é benéfico.
Mas quando se trata do edifício humano, utilizar estes métodos para justificar “os nossos fins”, é um redução completa dos valores que deve guiar uma sociedade. Na Igreja, nas instituições, nas relações dos chamados amigos e principalmente, quando se defendem valores como a fraternidade, igualdade e liberdade.
“Somos todos iguais perante a lei”. Bom, esta eu não vou comentar porque o imbecil terceiro, irmão do imbecil primeiro, e possivelmente cunhado ou cunhada do imbecil segundo, não foi tão imbecil a ponto de ficar para defender este pensamento.
É o que o Professor Leandro Karnal chamou de “Inteligência Salieri”. Não somos tão suficientemente estúpidos para estarmos felizes na estupidez, mas também sabemos que não somos Mozart.
A hipocrisia obriga, a quem a ela se encontra obrigado, a deixar de ser “politicamente correcta”, para ser “ignorantemente correcta”. Bem lembrou o catedrático de Harvard, Andrew Oitke: a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos do que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono.
Somos a geração “tolerantemente correcta”. Da política afirmativa das cotas raciais, da política assistencialista da família; da política da sociedade mentirosa.
As coisas são ou deixam de ser, não por serem verdade ou mentira, mas por estarem validadas no sistema de valores criados para sustentar o nosso mundo.
É o que, ao fim e ao cabo, pretendem os ideólogos das frases feitas, que não são ingénuas, e que proliferam nas redes sociais. Protágoras, um dos sete sábios da antiguidade talhou, que somos a medida de todas as coisas, das que são, assim como elas são, e das que não são, assim como elas não são.
De modo menos palavroso e mais sarcástico, alguns filósofos do século XVI disseram que “o bom senso, é aquilo que Deus inventou apenas para mim, e infelizmente, para mais ninguém”. Já o grande Zappa disse que a burrice tem seu charme, mas a ignorância é indesculpável.
Somos inegavelmente evoluídos do ponto de vista tecnológico, no entanto vivemos uma proporcional imaturidade política e social. Como tal, o melhor que temos a fazer é refugiarmo-nos na hipocrisia, diz a maioria, se queremos sobreviver, em “fraternidade”, “igualdade” e “liberdade”. Diria mais, como o hipócrita que escreveu numa rede social…”que a luz ilumine os nossos corações”. És hipócrita, direi eu.
Então, que assim seja!

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