Para Platão, um dos
problemas mais cruciais na questão política, é que todos os homens se acham
extremamente capazes de exercer, com a devida competência, a prática dessa
ciência, ou seja, todos se sentem aptos a fazer política, sem entender que se
trata de uma arte especial e destinada a poucos.
E como arte especial ele a
distingue em três tipos, a saber: a auxiliar, mais técnica, como o trabalho dos
artesãos, etc.; a produtora, como a da tecelagem, etc.; e a do saber, para
conduzir os homens, que seria a política propriamente dita, e que é superior a
todas as outras. E aqui temos, então, um dos conceitos fundamentais da teoria
política platónica.
Para Platão, o político
deve possuir qualidades especiais, habilidades seguras e conhecimentos
essenciais. O político deve encontrar o equilíbrio entre os fortes e poderosos
e os mais fracos e indefesos. E essa tarefa, decididamente, não é para qualquer
um.
Em “A República”, Platão
nos dá detalhes preciosos de que este sábio, este homem apto a governar os
demais homens, é o filósofo. Este é o homem sábio e o único que possui as
qualidades necessárias para o exercício competente e respeitável do poder
político. Aliás, ele compara o rei justo com o médico que curando ou não o seu
paciente, jamais deixará de ser médico e chamado e tratado como tal. Compara
também a um tecelão que sabe coser as vestimentas, unindo várias partes, vários
extremos, para cobrir a um corpo.
Platão entende ainda que
um homem sábio pode até mesmo, em certos casos, governar sem leis, que fará, em
nome do bem público, as melhores acções sociais, pois considera esse bem
público superior a tudo, inclusive, à própria lei.
Mas, enfim, como encontrar
este homem sábio, capaz de se tornar um rei justo e amado pelos súbditos, como
deseja Platão? Com certeza – e ironicamente – este rei não seria, por exemplo,
um Sócrates, que o que mais admitia era que nada sabia. Quem seria, então, este
ungido? Por acaso teria uma estrela na testa? Onde encontrá-lo?
Também não seria Passos
Coelho sobre o qual não se conhece qualquer sabedoria. Homens verdadeiramente
sábios não abundam como ervas daninhas nas searas do mundo. Encontrá-los,
portanto, é procurar agulha em palheiro. Nessa busca, então, é necessário separar
o trigo do joio, as impurezas dos metais preciosos, para se chegar ao rei
pensante, capaz de distribuir justiça com naturalidade.
Por isso Platão identifica
no homem verdadeiramente sábio algumas qualidades capazes de torná-lo um rei
competente e, a primeira delas, é justamente ter a capacidade de afastar de si
tudo o que for estranho e não condizer com a virtude da ciência política.
É que quando os maus
elementos são afastados, os falsos pretendentes ao trono são preteridos e o rei
sábio, ou rei filósofo, é escolhido por depuração, inicia-se então, o maior
desafio do governante que, para Platão, é harmonizar os opostos, tarefa nada
fácil, mesmo para um homem bastante sapiente. E a escolha não pode recair sobre
ignorantes que manipulam os votantes de um partido ou criam lóbis em Movimentos
de cidadãos. A isso chama-se esperteza e não sabedoria.
Ao governante sábio,
prudente e justo, então, cabe harmonizar os mais conflituantes interesses, estabelecendo
com clareza para todos, os usos e costumes do que seja o bem e o mal, o certo e
o errado, o público e o privado, enfim, o justo e o injusto. E isso não é
possível encontrar em pessoas que a única arte é a da manipulação de uma
carneirada que não compreende, sequer, para o que é chamado.
Hoje, no país e na
maioria dos municípios não se encontra entre todos os convivas da cidade que eles
possuam essa noção, e concordem com os princípios legais estabelecidos. Se
assim fosse, todos aceitariam de bom grado o aumento indiscriminado de
impostos, de taxas ficais, incluindo a aberrante taxa de telemóveis e o aumento
das contra-ordenações que o Estado central se propõe colocar em acção, nem os subterfúgios,
ora para cobrar altos valores pela utilização da energia ou da água, torneando
a lei com taxas, como a disponibilidade, em vez do aluguer de contadores, para
retirar proventos para financiar deslocações de parasitas ao estrangeiro e
pagar por baixo da mesa compensações remuneratórias com facturas das mais
diversas origens, mas onde predominam as dos restaurantes. O governante sábio,
por isso, deve ter a habilidade de unir os extremos, assegurando o convívio
equilibrado, evitando sempre que influências negativas possam colocar em risco
o interesse do todo em detrimento de partes.
Para Platão, enfim, a
ciência política tem como tarefa unir, combatendo a separação, cultivar a
prudência e a moderação contra a exacerbação, e manter o enérgico contra o
claudicante, colocando cada grupo no exercício de sua função e harmonizando
todo o corpo da sociedade.
Infelizmente, não é nesta
camada de ignorantes vindos das juventudes partidárias que podemos encontrar
homens sábios para Primeiro-ministro, Secretário de Estado ou de simples
presidente de uma câmara. Hoje, são os mais incompetentes, os mais ignorantes
que rodeados de conselheiros que não passam de vendedores de uma má publicidade,
que nos governam, ou melhor dizendo, que se governam.