sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A POLITICA COM PLATÃO


Para Platão, um dos problemas mais cruciais na questão política, é que todos os homens se acham extremamente capazes de exercer, com a devida competência, a prática dessa ciência, ou seja, todos se sentem aptos a fazer política, sem entender que se trata de uma arte especial e destinada a poucos.

E como arte especial ele a distingue em três tipos, a saber: a auxiliar, mais técnica, como o trabalho dos artesãos, etc.; a produtora, como a da tecelagem, etc.; e a do saber, para conduzir os homens, que seria a política propriamente dita, e que é superior a todas as outras. E aqui temos, então, um dos conceitos fundamentais da teoria política platónica.

Para Platão, o político deve possuir qualidades especiais, habilidades seguras e conhecimentos essenciais. O político deve encontrar o equilíbrio entre os fortes e poderosos e os mais fracos e indefesos. E essa tarefa, decididamente, não é para qualquer um.

Em “A República”, Platão nos dá detalhes preciosos de que este sábio, este homem apto a governar os demais homens, é o filósofo. Este é o homem sábio e o único que possui as qualidades necessárias para o exercício competente e respeitável do poder político. Aliás, ele compara o rei justo com o médico que curando ou não o seu paciente, jamais deixará de ser médico e chamado e tratado como tal. Compara também a um tecelão que sabe coser as vestimentas, unindo várias partes, vários extremos, para cobrir a um corpo.

Platão entende ainda que um homem sábio pode até mesmo, em certos casos, governar sem leis, que fará, em nome do bem público, as melhores acções sociais, pois considera esse bem público superior a tudo, inclusive, à própria lei.

Mas, enfim, como encontrar este homem sábio, capaz de se tornar um rei justo e amado pelos súbditos, como deseja Platão? Com certeza – e ironicamente – este rei não seria, por exemplo, um Sócrates, que o que mais admitia era que nada sabia. Quem seria, então, este ungido? Por acaso teria uma estrela na testa? Onde encontrá-lo?

Também não seria Passos Coelho sobre o qual não se conhece qualquer sabedoria. Homens verdadeiramente sábios não abundam como ervas daninhas nas searas do mundo. Encontrá-los, portanto, é procurar agulha em palheiro. Nessa busca, então, é necessário separar o trigo do joio, as impurezas dos metais preciosos, para se chegar ao rei pensante, capaz de distribuir justiça com naturalidade.

Por isso Platão identifica no homem verdadeiramente sábio algumas qualidades capazes de torná-lo um rei competente e, a primeira delas, é justamente ter a capacidade de afastar de si tudo o que for estranho e não condizer com a virtude da ciência política.

É que quando os maus elementos são afastados, os falsos pretendentes ao trono são preteridos e o rei sábio, ou rei filósofo, é escolhido por depuração, inicia-se então, o maior desafio do governante que, para Platão, é harmonizar os opostos, tarefa nada fácil, mesmo para um homem bastante sapiente. E a escolha não pode recair sobre ignorantes que manipulam os votantes de um partido ou criam lóbis em Movimentos de cidadãos. A isso chama-se esperteza e não sabedoria.

Ao governante sábio, prudente e justo, então, cabe harmonizar os mais conflituantes interesses, estabelecendo com clareza para todos, os usos e costumes do que seja o bem e o mal, o certo e o errado, o público e o privado, enfim, o justo e o injusto. E isso não é possível encontrar em pessoas que a única arte é a da manipulação de uma carneirada que não compreende, sequer, para o que é chamado.

Hoje, no país e na maioria dos municípios não se encontra entre todos os convivas da cidade que eles possuam essa noção, e concordem com os princípios legais estabelecidos. Se assim fosse, todos aceitariam de bom grado o aumento indiscriminado de impostos, de taxas ficais, incluindo a aberrante taxa de telemóveis e o aumento das contra-ordenações que o Estado central se propõe colocar em acção, nem os subterfúgios, ora para cobrar altos valores pela utilização da energia ou da água, torneando a lei com taxas, como a disponibilidade, em vez do aluguer de contadores, para retirar proventos para financiar deslocações de parasitas ao estrangeiro e pagar por baixo da mesa compensações remuneratórias com facturas das mais diversas origens, mas onde predominam as dos restaurantes. O governante sábio, por isso, deve ter a habilidade de unir os extremos, assegurando o convívio equilibrado, evitando sempre que influências negativas possam colocar em risco o interesse do todo em detrimento de partes.

Para Platão, enfim, a ciência política tem como tarefa unir, combatendo a separação, cultivar a prudência e a moderação contra a exacerbação, e manter o enérgico contra o claudicante, colocando cada grupo no exercício de sua função e harmonizando todo o corpo da sociedade.

Infelizmente, não é nesta camada de ignorantes vindos das juventudes partidárias que podemos encontrar homens sábios para Primeiro-ministro, Secretário de Estado ou de simples presidente de uma câmara. Hoje, são os mais incompetentes, os mais ignorantes que rodeados de conselheiros que não passam de vendedores de uma má publicidade, que nos governam, ou melhor dizendo, que se governam.