sexta-feira, 19 de março de 2010

Vale sempre a pena reler o que mudou...




"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora,
aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro. Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro

NESTE DIA DO PAI

Hoje, dia do Pai, recebi as flores mais lindas que alguém me poderia dar…a minha filha!
Obrigado pelas flores, pelo amor e carinho que me dedicas!
Mas, não é possível, neste dia, não reforçarmos a memória e lembrarmo-nos que um dia também tivemos um Pai.
E eu tenho muitas, muitas saudades do meu Pai, e porque li este poema, muito bonito, de Rama Lyon, não posso deixar de o partilhar, com todos aqueles, que hoje, dia do Pai, reforçam a memória de um Pai que já partiu. À sua memória, aqui deixo este poema, Pai…

NESTE DIA DO PAI
(19-3-2010)

Vou sofrendo a minha dor
Por alguém que já partiu,
E a saudade desse amor
Para sempre me feriu.

Mas um grito de coragem
Do meu peito hoje me sai
Pra deixar justa homenagem
Àquele que foi meu pai.

Não esqueço a bondade
Com que sempre me criou,
Nesse berço de amizade,
Tantas vezes me embalou.

Foi num mês de Fevereiro
Que a minha alma vazia
Nesse adeus derradeiro
O viu descer à terra fria.

Tanta mágoa me deixou
Nessa hora da partida
Que minha alma ficou
Desgostosa toda a vida

Se eu tivesse portador
Com certeza mandaria
Um abraço cheio de amor
A lembrar-lhe este seu dia.

Que a paz seja seu brilho
Aí no Céu onde o pai está,
Que na terra este seu filho
Nunca mais o esquecerá.

RAMA LYON

quinta-feira, 18 de março de 2010

A LEI DA ROLHA NO PSD

O PPD/PSD fez aprovar, no último fim-de-semana, no seu Congresso, uma norma estatutária que não permite, aos seus militantes, criticar o líder ou a actuação dos órgãos do seu partido, 60 dias antes de eleições.
Ao que se chegou! Se o Governo se lembrasse de pôr cá fora uma norma destas, dizendo que qualquer cidadão não poderia dizer mal do Governo ou do seu líder, 60 dias antes de eleições, que diriam os democratas deste país?
Antes de mais, esta norma é categoricamente inconstitucional.
A Constituição da Republica Portuguesa diz claramente que “todos têm direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações”.
Mais adiante, diz “O exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura”.
É óbvio, que todos os estatutos preservam o seu direito, de não se ser contra a organização, mas impedir que os seus membros discordem das orientações de um líder ou do órgão que promove acções políticas é que me parece a “lei da rolha”.
Salvo melhor opinião, os congressistas que aprovaram a introdução de uma norma que proíbe a crítica, ao líder, 60 dias antes de um acto eleitoral, no meio da confusão, nem souberam o que aprovaram. Assisti à confusão que foi a discussão destas alterações estatutárias e além de ter ficar surpreendido com alguém que teve a leviandade de propor uma norma desta natureza, fiquei espantado e admirado com o modo pouco organizado que a mesa teve na condução dos trabalhos e em particular na interpretação da norma estatutária que permite a aprovação ou rejeição de alterações aos estatutos.
Este Congresso teve dois objectivos, bem claros.
O primeiro veio do seu proponente que apresentou uma série de propostas de introdução e alteração de normas estatutárias, que não foram nem mais nem menos do que uma vingança de alguém que não esquece a sua tentativa frustrada de ser primeiro-ministro, sem condições politicas para tal.
O segundo objectivo foi o de realizar uma série de comícios, dos candidatos a líder.
O que ganharam em termos de televisão, falando para os promitentes votantes, perderam em espectáculo para a opinião pública em geral.
Não me parece que assim se vá a algum lado e o país merece mais do que isto.
De tanto escrever estou a ficar com a boca seca, mas como sou bebo leite de soja, vou beber um copo de água e deixo o vinho para a hora de almoço.

“Pipere abundans etiam oleribus illud admiscet.” [DAPR 22] Quem tem muita pimenta, mistura-a até nas verduras.

quarta-feira, 10 de março de 2010

POR UM PORTUGAL A “SÉRIO”


Mê filho continuas a ser aquele mentiroso compulsivo.
Sempre acabaste por pôr o PEC cá fora. Também não tinhas outro remédio, não é?
Para não subires as taxas dos impostos, baixaste as deduções em sede de IRS e depois vens dizer para a malta que não subiste os impostos?
Mê rico filho, já te tinham apanhado noutras mentiras, como aquela da TVI, aquela do curso, mas dizeres à malta, que vai pagar mais IRS, que não é subir impostos é que não.
Porque é que não me pediste conselhos? Bom, se não os tomaste quando eras pequenino, agora nem pensar. Mas ao Teixeira é que não lhe fica nada bem, porque ao fim e ao cabo, ele é que é o “contabilista”.
É pelo menos o que dizem. Ainda ontem, o Morais Sarmento sempre que falou do PEC referia-se ao Teixeira como o contabilista. Olha que não sou eu!
Agora, aquela dos “ricos”, não é bem ricos, aqueles que ganham mais de 150 mil patadas por ano, pagarem 45% é obra. É claro que eu percebo, mê filho. Tinhas que pôr alguma coisinha para moralizar o pessoal, principalmente os da esquerda do caviar. Eu sei!
Ah, e as mais valias mobiliárias? Agora é que vai ser…se tu já foste à bolsa do pessoal para reduzir o défice, eles estavam à espera de quê?
Eu sei, mê filho, que cinco anos de tanga, mais 4 anos de tanga, são 9 anos de tanga. Quando chegar ao final, não sei se o pessoal ainda tem tanga. Ainda, por cima, a andar neste pântano.
Ah! Mas o PEC só tem a parte financeira? E então em termos económicos o que é que vais fazer? Não sabes? Bem me parecia e o “contabilista” também não ajuda nada, não é? Tu ainda tens um Ministro da Economia? Onde é que o tipo anda? Já sei…foi ver como é que o Hugo Chavez está a fazer, para levantar a economia da Venezuela.
Ele que tenha cuidado, porque aquilo por ali agora são só tremores de terra. Não lhe vá acontecer alguma coisa, e depois tu, é que ficas com as mãos atadas.
Mê filho! Não te deixes filmar na televisão de perfil, porque se nota, logo, o nariz a crescer. Também não sei a onde é que tu foste buscar isso.
Agora diz-me cá, em segredo que ninguém nos ouve: “ Não vais aumentar o IVA?”.
Ah, vais mas não é já. Está bem!
Então, não vais baixar a despesa do Estado? Ai não? A gastar, continua tudo na mesma, não é? Só eu é que passei a minha vida a cortar nas despesas.
Mas como é que tu vais conseguir, continuar a “fornicar” três milhões e meio de portugueses sem os tipos reagirem?
Não sei, não! Não contes muito com isso. Ainda, por cima, vais pagar parte da divida com mais umas privatizações e os “camaradas” não vão gostar nada disso. Só não privatizes a CGD, porque ainda vamos precisar dela mais vezes. Ouviste?

Obrigado pelas tuas cartinhas e deixa de mentir. Tá?
Beijocas, daquela que nunca te esquece. ( Nem ela nem os 3,5 milhões de portugueses que tens andado a enganar).
Por um Portugal a “Sério”!

« Miserum istuc verbum et pessimum est ‘habuisse’ et nihil habere. » [Plauto, Rudens 1243] É triste e muito ruim essa expressão ‘ter tido’ e não ter nada.

sexta-feira, 5 de março de 2010

O PEC NÃO É A “SÉRIO”


Mãezinha, não te tenho escrito porque ando aqui numa azáfama, tramada.
Ainda agora fui receber um banho de multidão daquela rapaziada lá em Moçambique.
Nem percebi bem, porque é que me receberam assim. Porque na realidade, Portugal não tem feito nada por aqueles nossos irmãos.
Não temos lá escolas, nem Universidades, muito menos desenvolvimento tecnológico. Eu ainda disse ao Pinho para pôr lá umas ventoinhas, daquelas grandes, mas ele disse-me que em Moçambique não havia vento e portanto não dava.
Por outro lado, estou a aproveitar, aquela luta que se está a travar no PSD, para descansar um pouco. Um diz que vai apresentar uma moção de censura…é este que tem de ganhar! Temos que influenciar a malta do PSD a votar neste. Porque assim é a maneira mais fácil de cozinhar o PEC. Não, mãezinha. Não é o pagamento especial por conta. É o plano daquilo que vamos tirar aos contribuintes e dar de contrapartida em mais impostos, para pagarmos estes quinze anos de “pântano”.
É verdade, mãezinha. Desde que o Guterres foi para lá, até agora, já lá vão 15 anos. Mas a culpa não é nossa…foi do Santana. Coitado do homem, mãezinha. Só lá esteve 6 meses e ficou com as culpas todas. Há mesmo gente que não tem jeito nenhum para a política.
Eles estão a pensar que vou apresentar um PEC daqueles a “sério”. Esta do a “sério”, nunca mais me esquece. Mas não vai ser assim. Vou apresentar uma treta, eles depois deitam o Governo a baixo e quando o “povo que me ama” verificar que os maus são eles, o meu partido volta, novamente, mais 15 anos para o poder.
É assim a vida! Temos que ajudar os jovens a subir na vida e rápido! Neste intervalo de tempo, os jovens podem ir para as Fundações, Associações e outras coisas que a gente tem construído, para desorçamentar e pronto.
Mãezinha, desculpa da carta ser pequenina, mas o correio sai daqui a pouco e depois já não tenho oportunidade de te escrever daqui, porque só há correio de 15 em 15 dias. Foi graças a esta cartinha que me apercebi que podíamos fazer uma parceria com os correios de Portugal e de Moçambique. Já quanto às ventoinhas, o Pinho tem razão. Aqui só faz vento no Inverno e como chove muito, as ventoinhas molham-se todas. Não dá!
Como se diz lá pelos nossos lados,
Bem Hajam! E até ao meu regresso.

“Vacare culpa magnum est solacium”. [Cícero, Ad Familiares 7.3] Estar isento de culpa é um grande consolo

quinta-feira, 4 de março de 2010

AFINAL, SOMOS UM PAÍS RICO

Quando ligo a televisão e oiço os noticiários e as mesas redondas, fico esclarecido que afinal não se passa nada na política, em Portugal a não ser, as comissões disto e daquilo, por causa disto e mais aquilo.
Quer o PS quer o PSD só têm feito coisas boas, para melhorar o bem-estar dos portugueses.
Em 1977 não esteve cá o FMI, em 1983, também não se passou nada e se durante estes últimos anos, nada se passou, é porque o dinheirito da União Europeia, deu para toda a gente “mamar à grande e à francesa”.
Elas foram, as grandes obras que eram necessárias, para ligar o país de norte a sul. Elas foram, as escolas e hospitais, cujos parques imobiliários se encontravam completamente desfasado das necessidades nacionais.
Mas, agora, a coisa pia mais fino.
Acabadas de fugir, para o leste ou para os países asiáticos, as empresas que investiram em Portugal, depois da adesão à EFTA, o país já não produz o suficiente para a despesa que criou.
E tal como em 1977 e em 1983, é novamente o Zé -povinho que vai pagar a crise. Quer cá, quer na Grécia, a treta é a mesma.
E pode pagar, porque somos um país de ricos. Ai não? Então vamos ver se somos ou não.
Se pagamos um litro de gasolina pelo triplo do preço praticado nos Estados Unidos, quando pagamos tarifas de electricidade e de telemóvel 80% mais caras do que os americanos, não somos ricos?
Quando um carro que se adquire nos Estados Unidos por pouco mais de 8.000 euros, custa em Portugal, mais de 20.000, somos ricos ou não?
Em New York, o Governo, tendo em conta a situação financeira difícil, cobra 2% de IVA, mais 4% de imposto Federal. Nós como somos ricos, pagamos 20% de IVA e cuidado…porque vai aumentar.
Talvez isto possa mudar! Um dia destes, veio um General, falar à televisão e disse que tudo isto estava podre. Que em Portugal temos um problema de regime.
Finalmente, oiço alguém corroborar as minhas palavras de que a situação política em Portugal, não é um problema de líderes, nem de partidos, mas de regime. Ou seja: haverá que ter a coragem de se fazer uma nova constituição da república.
É engraçado que a história diz-nos que a primeira república começou com uma revolta dos “Sargentos”. Em 1974, a revolução iniciou-se com a revolta dos “Capitães”.
Não há dúvida que estamos em sentido ascendente…talvez a próxima seja uma revolução de “Generais”.

“Res loquentur nobis tacentibus.” [Sêneca, De Beneficiis 2.11.6] Os factos falarão, mesmo que fiquemos calados.