Num pensamento de Giampaolo
Rugarli este dizia que a lei é sombra,
púdica e hipócrita, do desejo de vingança da sociedade. Se, por uma razão ou
por outra, as paixões se condensam, os ódios se acendem, deve-se aplacá-los,
aquietá-los, acalmá-los. Desafogar o aborrecimento sem exceder. Os tribunais
são os lugares decentes da vingança. Não para encaminhá-la ao alvo correcto,
mas para impedir que ocorram movimentos perigosos...
Nestes tempos de hipocrisia,
muitas frases soltas, mas elaboradas, com a profundidade necessária, para que
cada um de nós se liberte de problemas de consciência e porque, muitos de nós,
queremos agradar a gregos e a troianos, somos egoísta e egocêntricos, utilizamos
as redes sociais para manifestarmos, muitas das vezes, de barriga cheia, aquilo
que nos atormenta no subconsciente.
“Não
culpe as pessoas por decepciona-lo, aceite que é sua culpa esperar demais deles”.
Deste modo, tenta-se colocar
no outro a ideia que a culpa é sua. “Nós
não temos nada a ver com isso”. Parece que deixámos de viver em sociedade.
Não interagimos. O que nos acontece nada tem a ver com os outros.
Acredito que mais do que em qualquer
outra época, mesmo levando em conta épocas onde a aristocracia e o clero faziam
e desfaziam suas vanidades ao vento, que esta é a época onde a mentira mais tem
sido despudoradamente maquiada; a época da mentira consciente.
Gritamos aos quatro cantos
que somos livres, mas tenho certeza que só um imbecil, no sentido “strictu
sensu”, pode realmente acreditar que seja livre. Só mesmo num estágio de
entropia avançado se pode pincelar uma tela que valida tais valores.
“Procuras recompensas ou foges de castigos, mas a verdade é que ambos
são consequência das tuas escolhas.”
São pinceladas como esta,
repetidamente colocadas nos mais diversos lugares, que vão procurando branquear
a consciência de cada um de nós. Este branqueamento existiu em todos os regimes
políticos. No fascista, no comunista e por maioria de razão, na democracia,
pois não estando demonstrado que este seja o melhor sistema politico, tudo o
que possa justificar a demissão dos outros na sua quota parte de
responsabilidade é benéfico.
Mas quando se trata do edifício
humano, utilizar estes métodos para justificar “os nossos fins”, é um redução completa dos valores que deve guiar
uma sociedade. Na Igreja, nas instituições, nas relações dos chamados amigos e
principalmente, quando se defendem valores como a fraternidade, igualdade e
liberdade.
“Somos
todos iguais perante a lei”. Bom, esta eu não vou
comentar porque o imbecil terceiro, irmão do imbecil primeiro, e possivelmente cunhado
ou cunhada do imbecil segundo, não foi tão imbecil a ponto de ficar para
defender este pensamento.
É o que o Professor Leandro
Karnal chamou de “Inteligência Salieri”. Não somos tão suficientemente
estúpidos para estarmos felizes na estupidez, mas também sabemos que não somos
Mozart.
A hipocrisia obriga, a quem
a ela se encontra obrigado, a deixar de ser “politicamente
correcta”, para ser “ignorantemente correcta”. Bem lembrou o catedrático de
Harvard, Andrew Oitke: a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos
do que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de
carbono.
Somos a geração “tolerantemente correcta”. Da política
afirmativa das cotas raciais, da política assistencialista da família; da
política da sociedade mentirosa.
As coisas são ou deixam de
ser, não por serem verdade ou mentira, mas por estarem validadas no sistema de
valores criados para sustentar o nosso mundo.
É o que, ao fim e ao cabo,
pretendem os ideólogos das frases feitas, que não são ingénuas, e que
proliferam nas redes sociais. Protágoras, um dos sete sábios da antiguidade
talhou, que somos a medida de todas as coisas, das que são, assim como elas
são, e das que não são, assim como elas não são.
De modo menos palavroso e
mais sarcástico, alguns filósofos do século XVI disseram que “o bom senso, é aquilo que Deus inventou
apenas para mim, e infelizmente, para mais ninguém”. Já o grande Zappa
disse que a burrice tem seu charme, mas a ignorância é indesculpável.
Somos inegavelmente
evoluídos do ponto de vista tecnológico, no entanto vivemos uma proporcional imaturidade
política e social. Como tal, o melhor que temos a fazer é refugiarmo-nos na hipocrisia,
diz a maioria, se queremos sobreviver, em “fraternidade”, “igualdade” e “liberdade”.
Diria mais, como o hipócrita que escreveu numa rede social…”que a luz ilumine
os nossos corações”. És hipócrita, direi eu.
Então, que assim seja!