terça-feira, 3 de abril de 2012

A PUTA SOBE, SOBE A CALÇADA




Por vezes apetece-me brincar, no bom sentido, com alguma da grande poesia que se tem feito. Este poema, da autoria de um grande poeta, António Gedeão, é uma poesia em que se podem fazer uns trocadilhos engraçados, mas que não deixam de ter a marca profunda deste excelente poeta. O poema original é uma obra dedicada às mulheres trabalhadoras e empenhadas no bem -estar da sua família, mesmo que para isso a sua vida seja pautada por imensos sacrifícios. Infelizmente existem excepções…mas que, na realidade, confirmam a regra. E é às excepções, que este trocadilho se aplica, com graça. Às excepções de mulheres com falta de carácter, desonestas consigo e com os outros…parasitas da sociedade. Porque, “que las hay las hay”
Então, aqui vai…

A Puta sobe, sobe a calçada,

Sobe e não pode que vai derreada.

Sobe, Puta, Puta, sobe,

Sobe que sobe, sobe a calçada.

Entrou em casade madrugada;

Regressa a casa é já noite cerrada.

Na mão grosseira,

De pele queimada,

Besuntada de creme rasca
Leva uma mala desengonçada e desgastada.

Anda, Puta, Puta, sobe,

Sobe que sobe, sobe a calçada.

Puta é velha,Enxovalhada,

Tem perna magra,Mal torneada.

Ferve-lhe o sangue de afogueada;

Saltam-lhe os peitos
Caídos e pendurados na caminhada.

Anda, Puta. Puta, sobe,

Sobe que sobe, sobe a calçada.

Passam bêbados,

Rapaziada,

Palpam-lhe as coxas de peles caídas

não dá por nada.

Anda, Puta. Puta, sobe,

Sobe que sobe, sobe a calçada.

Chegou a casa pôs-se a falar.

Falou com o filho,

Falou com a nora;

Bebeu a sopa numa golada;

Não lavou a loiça,

Não varreu a escada;

Não deu jeito à casa suja e desarranjada;

Não coseu a roupa já de si remendada;

Despiu-se à pressa, como quem vai para o varão

Desinteressada;

Caiu na cama de uma assentada;

Chegou um dos homens,

Viu-a deitada;

Serviu-se dela,

Não deu por nada.
Anda, Puta. Puta, sobe,

Sobe que sobe, sobe a calçada.

No final da manhã,

Já com o sol bem alto,

Salta da cama,

Desembestada;

Puxa do rimel,

Dá uma pincelada;

Veste-se à pressa,

Desengonçada;

Vai para o café,

Desaustinada;

Range o soalho a cada passada,

Salta para a rua,

Corre alvoraçada,

Galga o passeio,

Desce o passeio,

Desce a calçada,

Chega ao caféà hora marcada,

Puxa que puxa, larga que larga,

Toca a sineta na hora aprazada,

Corre pra casa,
Debita ódio
Que transfigura a cara

E volta ao facebook, para a desgarrada

Puxa que puxa, larga que larga,

Regressa a casa é já de madrugada.

A Puta de bêbada

Balança…pela calçada.

Anda, Puta, Puta, sobe,

Sobe que sobe, sobe a calçada,

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