
Agora não faço outra coisa se não andar armado em “caixeiro-viajante” a tentar vender produtos que todos têm e ainda por cima a preços mais caros.
É verdade! Embora tenhamos ordenados de miséria, a nossa produtividade é muito baixa, como sabes. Também ela começa logo aqui no governo, para acabar na assembleia. Então, vê lá tu, que até o Bloco tem uma assessora com 79 anos de idade. Como é que é possível produzir assim?
Estás a ver, se tivesses vindo trabalhar comigo, ninguém reparava nisso.
Ai mãezinha! O que vale é que não vou estar muito mais tempo por aqui. Quem se vai tramar é o vice-primeiro-ministro que vai ter que segurar a queda do crescimento da economia. Sim, porque isto vai ter um crescimento negativo de 2 ou 3 por cento ao ano. Imagina bem o que vai ser. O desemprego a aumentar e os subsídios a baixar. Vai ser lindo, vai.
Não digas nada a ninguém! Mas nessa altura, vamos, mesmo, ter de reduzir os ordenados. A malta até vai guinchar!
Mas valeu a pena ser político. Em primeiro lugar, consegui ser engenheiro. Depois consegui enganar esta malta toda com a continuação daquela lengalenga, da solidariedade e subsídios para toda a malta. Foi lindo. O quê? Não se fez nada na reestruturação da economia? Não é verdade! A economia está sempre a crescer, mãezinha. Agora, se cresce para negativo, na universidade não demos os números negativos. Pensava que isso não existia. Fiz sempre as contas com números positivos. A culpa foi do ensino. Agora não está melhor? Mãezinha, não diga isso. Os miúdos agora se chumbarem até aos quinze anos e estiverem no oitavo ano, passam para o décimo. Desculpe lá, mas no meu tempo não havia nada destas dificuldades.
E sabe bem que me esforcei. Pelo facto de ser filho de pais divorciados, a mãezinha nunca me ouviu dizer que estava traumatizado e que precisava de acompanhamento psicológico. Não é verdade? E agora? O governo farta-se de gastar dinheiro com estas modernices. Nem no azar que tive nos amores eu me queixei.
Agora é que não aguento mais. Quando me vir livre disto, vou ao psiquiatra e mando a conta aos portugueses. E o maluco sou eu?
Olhe, mãezinha! A malta é uma cambada de ingratos, é o que é. Sacrifiquei eu a minha vida e depois ainda andam a fazer anedotas e piadas sobre mim. Isso é que eu não aguento mais. É uma cabala!
Um dia, ainda hão-de fazer um filme, para televisão, sobre a minha ousadia. Ah, se não fizerem o filme? Fica descansada que hei-de arranjar maneira de acabar com a televisão. Só fica a do Estado, porque esta deve mais de 800 milhões de euros e se fecha, fica uma data de malta a arder.
“Dedit tempus locumque casus.” [Sêneca, Hippolytus 425] A sorte te deu tempo e lugar.
1 comentário:
Gostei imenso do texto, muito bem construído é exactamente este o retrato que os portugueses fazem do pinóquio. Enganou-nos a todos, salvo seja, a mim não, mas levo por tabela.rsrsssss
Tem uma boa semana.
Bj
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