sábado, 18 de junho de 2011

Vamos vivendo e esquecemo-nos que temos de morrer.

Vamos vivendo e esquecemo-nos que temos de morrer.
Fui, penso eu, um grande amigo dele. Uma vida cheia de peripécias, entre as quais a contradição entre a profissão que tinha e a sua própria vida.
Foram catorze anos de sofrimento. Os primeiros anos foram levados com a esperança, que um dia, seria possível, se houvesse um transplante, viver melhor. Esse dia nunca chegou, pelo contrário. Tocou o telefone…era o filho que trazia, em primeira mão, o desfecho que nunca se quis interiorizar.
Tantas vezes, parado no trânsito medonho, da segunda circular, logo pela manhã, via aquele edifício alto e pensava nele e pedia, de modo egoísta, que nunca tal me acontecesse.
Nos últimos e escassos anos do resto da sua vida, realizou um sonho…comprar um barco. Fê-lo com grande prazer e satisfação. Entregava-se ao prazer da “sua embarcação”. Mas, tantas vezes sozinho e entregue à sua vida, sentia necessidade de me convidar para estar com ele ou realizar um passeio no barco, até Cascais e voltar à marina de Oeiras.
Entre o sofrimento, mesmo assim, vamos vivendo e esquecemo-nos que temos de morrer.
Até um dia…em que tudo se vai tornando cada vez mais evidente…Nasce-se e morre-se, sozinho. Até lá, vamos procurando esquecer, com barcos ou sem barcos, com isto ou com aquilo que nos dá prazer, que temos de morrer.

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