sábado, 8 de janeiro de 2011

As expectativas e a vida

Todos nós gostamos de criar muitas expectativas. Expectativas sobre alguém, sobre algo, sobre o nosso futuro, sobre o futuro dos nossos filhos,etc.
Sou suficientemente humilde, para admitir que, também, falho, por vezes, nas expectativas que coloco. Embora, cada vez menos, pois a idade vai-nos dando a experiência necessária, para que não criemos expectativas demasiado elevadas ou utópicas. Quando tal acontece e as expectativas saem goradas, logo a seguir, vem a fustração.
Não seria um pouco mais fácil, em vez de criarmos expectativas, deixarmos as coisas correrem, indo medindo a performance das coisas? É que ao criarem-se expectativas elevadas, temos o impulso, incontrolável, de comandar as operações, de modo que nada falhe, em relação às expectativas criadas, e passamos a ter medo do inseguro, e damo-nos a procurar planear os acontecimentos. Se algo acontece diferente, logo, pensamos que está tudo a ir por água abaixo e começa o nosso sofrimento.
É importante e mais saudável, termos a consciência que o controlo dos acontecimentos, está sujeito às mais diversas vicissitudes, umas endógenas, outras exógenas, e que não temos possibilidade de as controlar, assumindo responsabilidades, para as quais não temos capacidade e muitas das vezes, não temos competência para as mesmas. Acredito que seria mais saudável e menos doloroso, se nos consciencializássemos destes factos.
Já no amor, quando vamos à procura de expectaticas, de algo que sempre gostámos de idealizar no outro, existe dificuldade de se analisar o outro, como ele mesmo é. Acredito que grande parte das pessoas não gostam do verdadeiro, do real, do simples… no fundo… não é fácil escrever isto, mas o misterioso, o irreal, o que planeamos é o que queremos. Não aceitamos o que é, não aceitamos quem somos ou o que as pessoas são, mas sim o queremos que fosse, o que queremos que sejamos e o que queremos que as pessoas sejam.
E o pior é que quando isto se ressalta no amor, aí, depois, geralmente questiona-se: Mas fulano e fulana não era assim, mudou de repente… era assim com toda certeza, mas não se reparou.
Hoje em dia temos uma cultura que favorece muito a questão da paixão, do sexo, e muito pouco do que se deveria dizer do que é o amor. Em linhas gerais e relembrando um post antigo, considero que o que reflecte melhor esta dicotomia, é a visão grega de amor e paixão. Paixão é quando se busca o preenchimento no outro e amor, quando se busca complementaridade.
Quando estamos apaixonados queremos que o outro supra as nossas faltas, sejam de qualidades ou defeitos, ou porque, nos apaixonamos, fisicamente, etc.
Porém o amor é algo que se complementa. Nós já somos o bastante, mas o outro quer ser mais do que isso. Nós damos 50% e a outra pessoa 50% e assim, procura-se a existência de uma relação equilibrada.
Só que agora vem a grande questão: Se as nossas questões não são com o que somos, não são com coisas reais, mas projectadas, como poderemos ter uma relação realmente estável? Isto, eu acredito que é uma pergunta difícil de responder.
Pessoalmente acredito que é uma questão pessoal. Porque, afinal, devemos trabalhar, internamente, para estarmos amadurecidos, não só para um relacionamento estável , mas também, para a própria vida. Significa que quando nos descobrimos como pessoa, quando estamos bem, com o que somos, é que começamos a ver o que de facto é a vida. Quando os olhos se nos abrem a essa grande maravilha, que é a felicidade, o amor, a amizade, a família, estes, são um só. Tudo está em sintonia, sincronia, não existe mistério, mas sim um despertar da consciência.
“Amantes libenter credunt quod optant.” Os homens enamorados acreditam de bom grado naquilo que desejam.

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