Estou-te a escrever, porque tenho o telefone em escuta. Mas, escuta lá o que te vou escrever:
Se não quiseres que escreva diz, porque eu paro já!
- Como sabes tenho uma fábrica de tintas que comecei com muito esforço e alguma fuga ao fisco, debaixo daquele vão de escada da D.ª Cândida.
Ela própria, nunca me passou recibos, porque dizia que os “chulos” do governo lhe mamavam o dinheirinho todo. E vai daí, as obrazinhas que fui fazendo eram todas clandestinas, porque os “manfios” da Câmara não me passavam a licença. Ainda cheguei a falar com um Fiscal, o Lopes que me disse, que se lhe entornasse algum, que talvez me safasse. Ele bem me pressionou, mas como a mãezinha sabe, não me deixo pressionar! Mas eu estou-me nas tintas, né mãezinha?
Sempre fui assim, um bocadinho relaxado nestas coisas. Estou-me marimbando!
Até tenho criado empregos, e estes tipos o que querem é sacar a massa que há-de ser da tua netinha. Dei emprego a uns brasileiros e a uns ucranianos, coitados, que tanto precisavam de um trabalhinho, porque aquilo lá na terra deles também não anda nada bem. Não têm dinheiro nem para as lulas. Eles até se colectaram e passavam recibos verdes…iguais àqueles, que milhares de tarefeiros passam no Estado. Sabes?
Só que dizem que é ilegal, por isto e mais aquilo, quando os coitados nunca se queixaram de trabalhar 12 horas por dia, sem receber horas extraordinárias. Mas, oh mãezinha: Como podia eu criar estes empregos se não fosse assim, trabalhando horas extraordinárias?
Agora, andam uns tipos a dizer que vão ver as contas bancárias e que não sei quê, e quem tem de provar a posse de dinheirinho somos nós! Mãezinha lembra-se, que todos os dias quando apanhava o paizinho a dormir, ia-lhe à carteira e conseguiu juntar aquele dinheiro que deu para fazer as obras lá em casa? Se fosse hoje a mãezinha tava tramada porque o fisco dava-lhe com a ripa e a mãezinha, ia ter de provar, de onde tinha vindo o dinheiro. Bronca! O paizinho, até então encornado, era o último a saber! Mas que grande bronca!
Tomei uma decisão importante! Vou-me marimbar para estes gajos que se têm governado com aquilo que é meu, vou vender o stock que tenho na fábrica, para Angola, que eles depois da guerra têm muita parede para pintar, e depois o tipo lá em Angola mete-me o dinheiro nas ilhas do Camões! E assim não me apanham os tostões!
Sim! Porque agora já não é seguro, meter o dinheiro no Insular, aquele do BPN, muito menos investir em fundos de refundos do BPP. Parece que andam por lá a ver papéis. Mas os tipos exportaram os papéis em contentores e agora já não há papéis! Como se fosse proibido exportar papel! Então não é bom para a economia nacional?
Querida mãe! Cuidado onde guarda o dinheirinho que saca todas as noites da carteira do pai, porque um dia destes a D. ª Cândida das finanças, pode aplicar uma multa por a mãezinha andar a surripiar dinheiro ao pai!
Beijinhos do seu filho, troca-tintas!
PS: Não lhe mando dinheiro desta vez, não vá a D.ª Cândida desconfiar e mandar fazer uma investigação e eu depois vejo-me à rasca para explicar onde é que o saquei.
Mãezinha! Queima, aí na lareira, esta cartinha, não vá o Manel da Preciosa apanhá-la e levá-la para publicar lá no jornal da aldeia, o “ Mistério Público”, e depois fica toda a gente a pensar que eu andei a sacar ao fisco o que era meu!
Se não quiseres que escreva diz, porque eu paro já!
- Como sabes tenho uma fábrica de tintas que comecei com muito esforço e alguma fuga ao fisco, debaixo daquele vão de escada da D.ª Cândida.
Ela própria, nunca me passou recibos, porque dizia que os “chulos” do governo lhe mamavam o dinheirinho todo. E vai daí, as obrazinhas que fui fazendo eram todas clandestinas, porque os “manfios” da Câmara não me passavam a licença. Ainda cheguei a falar com um Fiscal, o Lopes que me disse, que se lhe entornasse algum, que talvez me safasse. Ele bem me pressionou, mas como a mãezinha sabe, não me deixo pressionar! Mas eu estou-me nas tintas, né mãezinha?
Sempre fui assim, um bocadinho relaxado nestas coisas. Estou-me marimbando!
Até tenho criado empregos, e estes tipos o que querem é sacar a massa que há-de ser da tua netinha. Dei emprego a uns brasileiros e a uns ucranianos, coitados, que tanto precisavam de um trabalhinho, porque aquilo lá na terra deles também não anda nada bem. Não têm dinheiro nem para as lulas. Eles até se colectaram e passavam recibos verdes…iguais àqueles, que milhares de tarefeiros passam no Estado. Sabes?
Só que dizem que é ilegal, por isto e mais aquilo, quando os coitados nunca se queixaram de trabalhar 12 horas por dia, sem receber horas extraordinárias. Mas, oh mãezinha: Como podia eu criar estes empregos se não fosse assim, trabalhando horas extraordinárias?
Agora, andam uns tipos a dizer que vão ver as contas bancárias e que não sei quê, e quem tem de provar a posse de dinheirinho somos nós! Mãezinha lembra-se, que todos os dias quando apanhava o paizinho a dormir, ia-lhe à carteira e conseguiu juntar aquele dinheiro que deu para fazer as obras lá em casa? Se fosse hoje a mãezinha tava tramada porque o fisco dava-lhe com a ripa e a mãezinha, ia ter de provar, de onde tinha vindo o dinheiro. Bronca! O paizinho, até então encornado, era o último a saber! Mas que grande bronca!
Tomei uma decisão importante! Vou-me marimbar para estes gajos que se têm governado com aquilo que é meu, vou vender o stock que tenho na fábrica, para Angola, que eles depois da guerra têm muita parede para pintar, e depois o tipo lá em Angola mete-me o dinheiro nas ilhas do Camões! E assim não me apanham os tostões!
Sim! Porque agora já não é seguro, meter o dinheiro no Insular, aquele do BPN, muito menos investir em fundos de refundos do BPP. Parece que andam por lá a ver papéis. Mas os tipos exportaram os papéis em contentores e agora já não há papéis! Como se fosse proibido exportar papel! Então não é bom para a economia nacional?
Querida mãe! Cuidado onde guarda o dinheirinho que saca todas as noites da carteira do pai, porque um dia destes a D. ª Cândida das finanças, pode aplicar uma multa por a mãezinha andar a surripiar dinheiro ao pai!
Beijinhos do seu filho, troca-tintas!
PS: Não lhe mando dinheiro desta vez, não vá a D.ª Cândida desconfiar e mandar fazer uma investigação e eu depois vejo-me à rasca para explicar onde é que o saquei.
Mãezinha! Queima, aí na lareira, esta cartinha, não vá o Manel da Preciosa apanhá-la e levá-la para publicar lá no jornal da aldeia, o “ Mistério Público”, e depois fica toda a gente a pensar que eu andei a sacar ao fisco o que era meu!
"Magnum praesidium in periculis innocentia." [Sêneca Retórico, Controversiae 7.10] Nos perigos, a inocência é uma grande defesa.
1 comentário:
Tia Preciosa! Noutro dia vi o Director do "Mistério Público" nos segredos com o Zé. Até pareciam que se entendiam muito bem!Tá a ver? É preciso ter cuidado!
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