quarta-feira, 22 de setembro de 2010

MUDADOS OS FACTOS, MUDA-SE O DIREITO.

Mê rico filho!
Gostei da tua última cartinha. Felizmente que não ficaste zangado com a tua mãezinha.
Mas, há coisas, que tenho vindo a ouvir, que não gosto nada.
Uma delas é que isto está cada vez pior. A divida pública não pára de crescer. O desemprego, aspas, aspas. E afinal, parece que o PIB, não cresce como devia de crescer. Que vais mesmo, ter de aumentar outra vez os impostos.
Mê filho! Onde é que a gente vai parar? Ah, não sabes? Então, quem é que há-de de saber? Diz-me lá?
É que os juros pagos pelos Estado pela dívida pública emitida hoje através IGCP subiram 17, 7 por cento a dez anos e 29,7 por cento a quatro anos, com a procura a exceder largamente a oferta.
É neste estado que vais deixar o Estado? Foi para isto que eu andei a esforçar-me toda a vida? Olha, mê filho…parece que só se perderam as que caíram no chão!
E depois, ainda, foste apoiar, o Manel, para Presidente da República? Então, não é que aquele tonto, ainda agora, disse que era contra a entrada do Fundo Monetário Internacional em Portugal, na sequência dos resultados sobre a execução orçamental? Então, se tu não percebes nada disto, e não consegues travar a despesa pública, quem é que vai pôr o país nos eixos? Não vejo outra hipótese, mê filho.
Mas olha que o Pedro, também deve andar a sonhar alto, pois, agora, veio dizer que os sociais-democratas estão abertos ao diálogo com o executivo. Os cortes na despesa pública são essenciais. Nas empresas municipais, por exemplo. Nas empresas municipais? Este tipo, também não se enxerga. Até parece que andaram os dois na mesma escola. Eu sei, mê filho que quando ele acabou o curso já estava a caminho dos cinquenta. Mas é isso mesmo, mê filho. Vocês, andaram o tempo todo nas “jotas” e depois os estudos ficaram para trás. Hoje é mais fácil? É verdade. Graças ao teu espírito aventureiro, criaste as “novas oportunidades”, e hoje, o que não faltam, são “novas oportunidades.” Até já temos atletas que entraram para medicina sem ter o 12.º ano.
Vai ser uma revolução socialista, sem dúvida! Nem dos “camaradas” se esperaria outra coisa, mê filho. A melhoria dos rácios, do analfabetismo encoberto, da “República laica e socialista”, a caminho do desastre.
Entretanto, continuas a distrair a malta. Agora, vai entrar na ordem do dia, o facto do Parlamento discutir em Outubro, os projectos de lei do PS, BE e CDS-PP sobre o chamado “testamento vital”.
E, o outro testamento? Aquele que eu gostaria de poder fazer, antes de morrer? Mãezinha, aí manda o Estado. Quem decide a quem podes deixar o teu património, é o Estado.
Pois é, mê filho. Mas já pensaste que isso está ultrapassado em face das novas realidades sociais? Quando na sociedade actual, a taxa de divórcio é de 52%? Significa que as famílias se estão a desorganizar e que as coisas não são as mesmas que eram vai para cinquenta anos.
Então, repara:
Um casal, homem e mulher casaram. Têm dois filhos. Passados, dez anos, divorciam-se. Os filhos ficam, como é “tradicional” debaixo da alçada da mãezinha. O pai, se pagar, dá uma pensão de alimentos. A senhora volta a casar. Quem vai ajudar a sustentar os filhos do primeiro casamento? É o padrasto! Logo, aqui começam as desigualdades.
Este novo casal constrói e adquire novo património, em que o padrasto, por exemplo, contribuiu com a totalidade do dinheiro. Entretanto, este morre!
Quem é que vai herdar? A mulher e os filhos, que existam, do primeiro e segundo casamento! Correcto. Só que quando a mulher morrer, os filhos desta, herdam muito mais, que os outros filhos do primeiro casamento, ou não? Onde é que está a justiça? E, se a senhora, entretanto, já tivesse filhos de outro casamento? Estes, sendo só enteados, pelo mesmo raciocínio, vão herdar, à morte da mãe, aquilo que o padrasto contribuiu, em detrimento dos seus filhos biológicos. Isto, mal comparado, é andar a sustentar filhos alheios. Faz-me lembrar o outro: “ Casaste com a minha mãe, tens que me aguentar”.
Isto tudo, porque o Estado, continua a encarar a realidade social das famílias, como no tempo de Júlio César!
Já para não falar, das centenas de idosos que são vitimas de violência e maus tratos dos filhos, mas que pela exigência da lei, vão depois herdar dos pais, que mal trataram em vida.
Isto é imoral!
Mê filho. Desculpa, mas com a minha idade, tenho andado a pensar na morte e tenho-me questionado, se tu mereces herdar alguma coisa!
Beijinhos desta tua mãe desiludida, pela porcaria que tens andado a fazer.
Vê-se se cresces, uma vez por todas.

“Mutatis factis, ius mutatur”. [Jur] Mudados os factos, muda-se o direito.

1 comentário:

Anónimo disse...

muito bem escrito. E sempre um prazer ler os seus postes