quarta-feira, 21 de julho de 2010

NEM COM JUSTA CAUSA É DESPEDIDO

Mê rico filho!
Chegou o carteiro, das noves para as dez. Fui a correr à janela, em bicos dos pés. E pus-me a gritar…há carta para mim? Responde-me o carteiro: tem uma carta do Zé, sê filho!
Vi na tua cartinha, que nunca mais te esqueceste, que a mãezinha usava o sabão macaco e o Halibut para te esfregar as “nalguinhas”, quando estavas assadinho. E que ricas nalguinhas que tu tinhas, mê filho.
Tenho estado a acompanhar as entrevistas e discussões sobre a Constituição da República. Então, aqueles malandrecos, não querem ficar cinco anos no governo?
Mas mais, querem preparar-se para despedir o pessoal, com aquela de acabarem com a “Justa Causa”. Não sei bem para que é que eles querem aquilo, se tu, com “justa causa”, mandaste para o desemprego milhares de portugueses. Por outro lado, olha para ti, que com justa causa nunca mais és despedido. Dizem que já são mais de seiscentos mil. Mas havia tanta gente a trabalhar? Como é que é possível? Então, com tanta gente, agora, sem trabalhar, como é que as receitas dos impostos, continuam a subir? Milagre? Não me parece, seu maroto.
Afinal, é bem verdade o que andam a dizer que tu só tens aumentado os impostos à malta. Ah, e mais! Que neste primeiro semestre, aumentaste mais a despesas. Esse foi sempre o teu problema. Sempre gastaste mais do que ganhavas. Não tens mesmo jeito, meu “nalguinhas” da mamã.
Mas o Pedro não está para brincadeiras. Entalou o Silva e deu-te uma oportunidade, diabólica, de agarrares naquele mote do neo-liberalismo e dizer que querem destruir as conquistas de Abril.
Que é uma proposta de uma constituição retródoga e que querem é que o país nunca mais seja socialista e mais injusto. Bom, se ficar cada vez mais pobre, não faz diferença. Aí temos sempre a desculpa da crise internacional e pomos a malta toda a pedir. Corta-se nos exames de diagnóstico nos hospitais, aumentamos a idade da reforma, baixamos as reformas, baixamos os salários e a culpada é esta maldita crise.
Vá lá, vá lá, que eles não mexeram nos tribunais. Mantêm o Constitucional, os advogados do Estado continuam a ser magistrados e a fazer as borradas que querem e ninguém lhes pede contas. E se alguém o fizer, está a ir contra os tribunais e a tentar desvirtuar o estado de direito. Mê filho! Não estás farto destas balelas? É que até a mim me cansam.
Já não falo do ensino…esse então, devem querer acabar com aquele facilitismo que se tem criado, de passar a rapaziada sem exames e depois, ainda metê-los na universidade com vinte e três anos, mesmo que sejam analfabetos. E três anos depois, licenciados em qualquer coisa. Olha, mê filho. Eu que pensava que os bacharelatos já tinham acabado, mas não. Agora, parece que as escolas profissionais já querem dar bacharelatos. Então já viste, um empregado de balcão de um Hotel, bacharelado? Isto sim é que era categoria. Olhe Sr. Bacharel, era um café e um copo de água! A porra toda, é que depois a gorjas aumentavam. Não podíamos dar a mesma gorja que damos hoje, a um bacharel. Ou não é? Mas destas coisas de inventar cursos e diplomas administrativos é a tua especialidade, mê filho.
Hoje a cartinha já vai longa e eu ainda tenho que fazer umas compras no LidL, pois, não tenho nada em casa. Porque vou ao LidL? É fácil, mê sacaninha…é que com a reforma que tenho, mais o Halibut que me obrigas a comprar, o dinheiro não chega para tudo.

“Beati sunt ii qui sorte sua contenti sunt.” Felizes os que estão contentes com a própria sorte.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este post está fantástico. Com muita imaginação. Parabéns.