sábado, 19 de junho de 2010

A ECONOMIA SEMPRE A CRESCER

Mãezinha, recebi a tua cartinha em que dizias que querias ir às compras. Também eu, mas não tenho tido tempo. Isto está tudo, uma grande trapalhada.
Agora não faço outra coisa se não andar armado em “caixeiro-viajante” a tentar vender produtos que todos têm e ainda por cima a preços mais caros.
É verdade! Embora tenhamos ordenados de miséria, a nossa produtividade é muito baixa, como sabes. Também ela começa logo aqui no governo, para acabar na assembleia. Então, vê lá tu, que até o Bloco tem uma assessora com 79 anos de idade. Como é que é possível produzir assim?
Estás a ver, se tivesses vindo trabalhar comigo, ninguém reparava nisso.
Ai mãezinha! O que vale é que não vou estar muito mais tempo por aqui. Quem se vai tramar é o vice-primeiro-ministro que vai ter que segurar a queda do crescimento da economia. Sim, porque isto vai ter um crescimento negativo de 2 ou 3 por cento ao ano. Imagina bem o que vai ser. O desemprego a aumentar e os subsídios a baixar. Vai ser lindo, vai.
Não digas nada a ninguém! Mas nessa altura, vamos, mesmo, ter de reduzir os ordenados. A malta até vai guinchar!
Mas valeu a pena ser político. Em primeiro lugar, consegui ser engenheiro. Depois consegui enganar esta malta toda com a continuação daquela lengalenga, da solidariedade e subsídios para toda a malta. Foi lindo. O quê? Não se fez nada na reestruturação da economia? Não é verdade! A economia está sempre a crescer, mãezinha. Agora, se cresce para negativo, na universidade não demos os números negativos. Pensava que isso não existia. Fiz sempre as contas com números positivos. A culpa foi do ensino. Agora não está melhor? Mãezinha, não diga isso. Os miúdos agora se chumbarem até aos quinze anos e estiverem no oitavo ano, passam para o décimo. Desculpe lá, mas no meu tempo não havia nada destas dificuldades.
E sabe bem que me esforcei. Pelo facto de ser filho de pais divorciados, a mãezinha nunca me ouviu dizer que estava traumatizado e que precisava de acompanhamento psicológico. Não é verdade? E agora? O governo farta-se de gastar dinheiro com estas modernices. Nem no azar que tive nos amores eu me queixei.
Agora é que não aguento mais. Quando me vir livre disto, vou ao psiquiatra e mando a conta aos portugueses. E o maluco sou eu?
Olhe, mãezinha! A malta é uma cambada de ingratos, é o que é. Sacrifiquei eu a minha vida e depois ainda andam a fazer anedotas e piadas sobre mim. Isso é que eu não aguento mais. É uma cabala!
Um dia, ainda hão-de fazer um filme, para televisão, sobre a minha ousadia. Ah, se não fizerem o filme? Fica descansada que hei-de arranjar maneira de acabar com a televisão. Só fica a do Estado, porque esta deve mais de 800 milhões de euros e se fecha, fica uma data de malta a arder.

“Dedit tempus locumque casus.” [Sêneca, Hippolytus 425] A sorte te deu tempo e lugar.

1 comentário:

Saozita disse...

Gostei imenso do texto, muito bem construído é exactamente este o retrato que os portugueses fazem do pinóquio. Enganou-nos a todos, salvo seja, a mim não, mas levo por tabela.rsrsssss

Tem uma boa semana.
Bj