sexta-feira, 11 de novembro de 2011

SEIS CHINESES E UM AMERICANO





Interrogamo-nos porque é que a Wal-Mart vende tão barato? Quem diz a Wal-Mart, poderá falar-se de qualquer outro grupo de grande distribuição no Mundo.
É de todos conhecida aquela anedota dos sete náufragos numa ilha deserta. Seis deles orientais e o sétimo é um norte-americano, muito gordo. No primeiro dia, são distribuídas as tarefas que todos deverão cumprir de modo a permanecerem vivos. Um ficará encarregue da lenha, outro da pesca, outro da caça, o seguinte da construção de um abrigo. Etc. Por fim, decidem que o norte-americano deve dedicar-se apenas à tarefa de comer. E assim fazem.
Todas as manhãs, os seis asiáticos dedicavam-se às suas tarefas, chegando à noite, a proporcionar um belo manjar ao americano. Como a comida era tanta que ficavam sempre restos que davam para alimentar os seis asiáticos.
Esta história explicada ao comum dos mortais, estes exigiriam o exílio deste malandro do americano. Mas, a história contada a um economista ortodoxo, neoclássico, daqueles de cátedra e tertúlia, a sua análise seria tão surpreendente quanto ilustrativa.
Afirmaria que, de facto, os seis asiáticos necessitam do norte-americano porque este constitui, na realidade motor da economia local. Sem ele a e sua grande vontade e necessidade de comer, nunca a pesca se teria desenvolvido, não teriam sido construídas infra-estruturas, como cabanas, tigelas ou canoas. A percentagem de pescado ou dos legumes colhidos desceria para níveis preocupantes. O PIB, os indicadores de emprego e actividade seriam os de uma ilha subdesenvolvia. O apetite voraz do norte-americano ocioso, foi o que obrigou os asiáticos a realizar uma forte inversão de I+D de modo a maximizar os recursos da ilha.
Sem o americano nada de progresso teria sido possível, nesta ilha. Até o desenvolvimento das artes, a composição de músicas, as artes cénicas nunca se teriam desenvolvido na ilha, pois era necessário entreter o americano enquanto este se banqueteava. E para que tudo isto funcionasse, obrigou os chineses a criarem sistemas de coordenação, de repartição de trabalho e distribuição dos recursos, redundando numa maior, mais eficaz e mais completa complexidade social, o que com o tempo, lhes permitirá preparar banquetes cada vez mais elaborados, facto que despertará neles dotes de iniciativa e liderança.


É mais que evidente que sem a presença do amigo americano o desenvolvimento económico seria inconcebível. Se o americano morresse pela quantidade brutal de alimentos que ingeria, o mais provável é que os sobreviventes trabalhassem apenas três ou quatro horas de modo a garantirem somente a sua sobrevivência e passassem o resto dos dias deitados.
Isto teria, como consequência, uma quebra brutal da produtividade e levaria à ruína, a curto prazo, a economia emergente. Cada um passaria o seu tempo no seu espaço de praia e a estrutura de comando e funções, acabaria por desaparecer. Seria uma questão de tempo até aparecerem as querelas, discussões. A ausência de um objectivo comum, de um trabalho, acabaria por fazer deles indivíduos preguiçosos e desconfiados.
Os estudiosos de Wall Street depois, de aturados estudos, chegaram à conclusão que as sociedades que produziam, mais alimentos, as que eram excedentárias, possuíam, paradoxalmente, uma população mais sujeita aos rigores do trabalho e da tirania. Veja-se o caso de Portugal. É o que estamos a fazer. Talvez a produtividade que nos há-de salvar de todos os nossos males não passe apenas de outra metáfora sobre a suposta necessidade de alimentar a barriga do americano. O crescimento, a criação de capitais, o desenvolvimento de algumas técnicas ou sectores, não são positivos por si só. Não existem, por isso, regras, na ilha, que não possam ser revogadas. Deve ser essa a nossa esperança.
Porque a pagar de juros e outros prémios, metade daquilo que nos emprestaram, para que possamos a voltar a engordar o americano, não me parece ajuda…transborda a uma cambada de “agiotas”. E os otários somos, todos nós!

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