sábado, 13 de novembro de 2010

A VIDA “PASSA” POR NÓS



Começamos por não ter a noção de quem somos. Quando olhamos, ao nosso redor, a primeira vez, vimos a imagem de quem se encontra perto de nós. Aprendemos a ser protegidos e vamos, a partir daí, procurar a vida inteira, a protecção.
De acordo com o nosso crescimento, aprendemos, também a dormir. Encontramos posições diversas, de acordo com a postura que temos na vida. Mais descontraídos ou mais retraídos, conforme se vai sentindo a protecção, que se tem na vida e o nosso modo de estar, na mesma. São adaptações que funcionam, como escape, do que foi o dia. Quem não se adapta, por si só, tem de encontrar outros meios de se procurar proteger. Há quem não consiga dormir, e encontra, no apoio dos fármacos, a ajuda necessária. Há quem durma profundamente, como se a mente se refugiasse nesse sono profundo, recarregando baterias que se esgotam ao longo do dia.
E de adaptação, em adaptação, procura-se ao longo da vida, as realizações, aquelas que nos parecem ser a nossa satisfação. Também há, quem, depois de um sono profundo, normalmente, com ajuda dos fármacos, não tenha a força de vontade necessária, para as suas realizações. É como o deixar correr a pena, de tal modo que a vida vai passando, mas, que nos importa, se a vida, nestes casos não faz grande sentido. Ou se calhar faz sentido, deste jeito.
De qualquer dos modos, a vida vai correndo. Vai passando por nós. Poder-se-ia dizer, de outro modo, mais bonito e filosófico, que nós, é que temos de passar pela vida. Outra forma de refúgio, perante as agressões da vida. É como se estivéssemos a adequar o nosso modo de dormir, em função da vida.
Passamos, deste modo, a vida, a proteger-nos. Mas, quando já não conseguimos proteger-nos, ficamos inteiramente à disposição dos diversos agressores.
Em Portugal, a família já é um lugar perigoso. Mas, os que se encontram fragilizados e que pensaram, toda a sua vida, que a sua protecção, continuaria, quando chegassem ao fim da vida ou, numa eventualidade, de uma vicissitude, daquelas manhosas, tal como a sentiram, quando a vida passou por eles, encontram, mais do que o abandono, a agressão física.
As estatísticas e as queixas não dizem tudo. A vergonha impõe-se e é mais forte do que o sofrimento.
Os fragilizados da vida, são hoje, vítimas de violência física, psicológica, sexual e económica. Quantos não “vivem”, a sua vida, “sequestrados”?
Quantas pensões não se encontram confiscadas, por aqueles que se dizem protectores?
“ Dantes na minha casa, no Natal, eram mais de vinte pessoas. Agora sou só eu”.
Estou a citar a declaração de alguém que, com 84 anos, foi barbaramente espancado pelo único filho, que “tem”. E porque estamos, hipocritamente, em mais uma época de Natal, talvez valha a pena pensar, que todos nós, que aprendemos a ser protegidos, podemos, um dia, não ter protecção.
Talvez a possamos encontrar, num qualquer supermercado, num stand de automóveis ou numa imobiliária. Quem sabe, se este é o caminho.
Mas, se a falta de protecção vai até à agressão física, a exploração económica é uma das queixas mais frequentes que chegam à linha telefónica do Provedor do Idoso. (http://www.provedor-jus.pt/idoso.htm)
Nos relatos apresentados, desde a neta que só visitava o avô no dia em que ele recebia a pensão – para ficar com ela –a uma idosa que foi posta na rua pela família por acharem que ficava muito dispendiosa.
Isto não é ficção. É a realidade de um país, de fortes inspirações cristãs e católicas, onde a miséria e a pobreza, parece que continua a ser o caminho, para a porta dos céus. Onde se continua a falar de caridade (conceito cristão) ou se fala de filantropia, conceito romano( 316 D.C.), contrapondo-se, ao do conceito de caridade, criado pela religião.
Às vezes, ponho-me a pensar se isto tem alguma coisa a ver com o crescimento do P.I.B. Ou se, eventualmente, é o TGV que nos levará à anarquia social, numa parceria público – privada.
Pública, porque o Estado começa a demitir-se e a empurrar as suas responsabilidades, que assumiu, no dia em que nos começou a “sacar” impostos, para uma dita “sociedade civil”, (que ainda não entendi bem o que é).
Privada, porque quem teve a oportunidade de “amealhar” durante a vida, “com protecção”, pode ir para o supermercado dos idosos ou dos fragilizados, e comprar o seu espaço de vida com dignidade e bem -estar, como se fosse a uma agência imobiliária.
Na realidade, a sociedade, já está a valorizar a pessoa, não pelo que esta aportou de experiência, conhecimento, trabalho e de protecção, aos outros, unicamente, como mais um produto de consumo. Estamos, todos nós, a viver o “stand da vida.” Neste caso, a sociedade está a proporcionar o “subsidio para abate”.
Nos próximos 40 anos, um terço da sociedade portuguesa será representada por uma população idosa.
Que se cuidem, os que tem trinta anos de idade, no momento em que escrevo este “post”.
A vida “passa” por nós!


“Sana me, Domine, et sanabor; salvum me fac, et salvus ero.” [Vulgata, Jeremias 17.14] Cura-me, Senhor, e eu serei curado; salva-me, e serei salvo.

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