Ontem foi um dia, atarefado. Ao fim de várias reuniões, diversos telefonemas, despachos e outras coisas mais, mais um telefonema e nada. Fica para segunda-feira.
Regresso, a casa, ao fim do dia…e acabo por ter, por companhia, a Maria Callas e a sua belíssima voz… Hoje, apetece-me escrever. Foram algumas horas de reflexão e pensamentos, a ouvir a Maria Callas. Como não podia deixar de ser, passei pelos “Vangelis” e a sua extraordinária música. E o sono tardava em vir…é mau, porque ficamos com tempo a mais para pensar.
Hoje,apetece-me…escrever.
Ontem, ouvi a música, que me dizia algo. Aquela que tinha necessidade de ouvir. Se tivesse os amigos por volta, se calhar eles quereriam ouvir outro tipo de música. Mas, também, não tenho que arrastar os outros a ouvir a música que eu quero.
E hoje apetece-me escrever. E os dias, como o de ontem nem sempre dão para ouvir a música que ouvi, mas dão para muitas outras coisas. Calhou assim. Hoje, apetece-me escrever, mesmo sem ter nada relevante para escrever… Dá para sentir que dormimos, o quanto basta, mas que não temos o pensamento arrumado. Se calhar porque há muita coisa para dizer…que nos embarga a voz. Ainda assim, estamos vivos, saudáveis, quanto basta, a tentar envelhecer como quando crescíamos. Não pensem que é tarefa fácil. Acabou a música… tenho de mudar o DVD, mas no silêncio, veio-me à lembrança aquela música de menino…”lá vai uma, lá vão duas, três pombinhas a voar… Infelizmente, não são pombas, são Jagudis. Ainda me lembro, na Guiné, de ver empoleirado nos caixotes de lixo, os “Jagudis”. Estão sempre à espera de encontrar algum despojo para comer.
Porque…procurava encontrar respostas para todo um conjunto de perguntas, já batidas. Os dias correm com grande velocidade e a maioria das vezes calamos demais. De jovens a adolescentes, que já tivemos tudo, chega-se a um ponto em que achamos que não temos nada. E perguntamos, ingénuos, ao registo musical que nos inunda os sentidos, porque razão, somos tão tolos e incompletos? Por que motivo estamos já mais disponíveis para deslizar em vez de correr? Por que motivo nos colocamos mais atrás nas fotografias, porque razões, obscuras ou não, nos deixamos ficar quietos, e quase nem argumentamos, quando aquele fulano assume a dianteira? Até na padaria, sempre aparece a dona de casa, licenciada, em sociologia, antropologia, psicologia do desporto ou licenciada em “tuba”, ou qualquer outra coisa do género, que pensa que observou o suficiente para tentar passar a fila existente para a caixa de saída. Como eu odeio esta esperteza saloia, metida em meias de vidro. Mas, o nosso dia-a-dia está impregnado destas espertezas. E se fosse só na padaria, mas é em tudo na vida, porque alguém os convenceu que chegam lá, mais depressa, como se a decisão fosse nossa, e não das vicissitudes que a vida nos vai colocando. Idiotas!
Queremos o nosso lugar, aqui na terra. Podemos, talvez, ainda achar que somos imortais (só os tolos que ainda não viram pombinhas a voar), mas o que se tenta fazer é adoçar o sentido da vida com menos ousadia. Julgaremos nós, que os mais novos tomaram os nossos lugares, nos cafés, nas ruas, nos pontos – de –encontro? Será que pensamos que já somos um livro quase completo, mas não sabemos bem, em que página nos estamos a ler? Talvez… algumas vezes, precisaremos de um marcador de páginas da nossa vida, porque, às tantas, andamos demasiados dias a ler os mesmos capítulos, repetidamente, desconcentrados, e a música sabe-nos sempre diferente, tinge-nos a expressão, calca-nos os cabelos cãs.
E, hoje, apeteceu-me escrever.
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