O actual governo tem seguido à risca o manual de instruções que vem circulando, nos meios políticos.
Em primeiro lugar, há que fazer amigos nas grandes empresas, dos vários sectores -chave. Trazê-las para o núcleo da governação. A política deve estar virada para os grandes negócios e para a alta finança. Creio que temos vários exemplos, muito recentes, em Portugal. Desde a CGD a emprestar dinheiro para se comprarem acções de outros bancos, como foi o caso do BCP, ou a transferência da administração da mesma, para o BCP.
Deve-se defender que a política e os negócios são inseparáveis. A política deve estar perto dos negócios, tal como estes, perto da política. Deste modo, deve-se ir falando da necessidade da iniciativa privada, da redução de impostos para as empresas e a desregulação dos sectores. Os cidadãos devem ter o direito de serem eles mesmo, para que possam enriquecer e consumir sem restrições. Na desregulação, se o leque legislativo estiver muito apertado, por imposições de organismos internacionais, sempre há a possibilidade de colocar, nas instituições reguladoras, na sua gestão, amigos que possam ser passivos e por vezes até fazer alguns jeitos. Se eles se portarem bem, e depois de se tornarem inconvenientes, promovem-se, e colocam-se, os mesmos, nessas mesmas organizações internacionais, em lugares de topo.
Para que o círculo se vá fechando, deve-se procurar a maneira de infiltrar nos sindicatos e associações profissionais, que tentem pensar pela sua própria cabeça, alguns correligionários.
Já quanto aos tribunais e à polícia de investigação, se os mesmos começarem a investigar situações que possam ameaçar o governo, devidamente eleito, há que começar a acusar juízes, magistrados, de conduta desonrosa e de ingerência na actividade de um governo, legitimamente eleito. Era o que faltava. Então, sirvam-se de todos os meios, ao alcance, para pôr em conflito, se possível, as diversas hierarquias de tribunais.
E a luta deixa de estar do lado do governo e passa para a magistratura que vai ficando cada vez mais refém dos políticos. Isso é bom, para dar estabilidade governativa. Haverá que não esquecer da necessidade de se exercerem pressões sobre todos os focos extraparlamentares de oposição. OS críticos do governo devem ser postos de joelhos, de preferência em silêncio. Especial atenção às instituições que monitorizem o poder. Se existirem O.N.G.S. que estejam a causar embaraços, haverá que realizar interrogatórios ameaçadores e questionar, de preferência, as suas fontes de financiamento e mesmo a constituição das suas administrações. Desde logo, insinuam-se dúvidas sobre o seu estatuto e o carácter desinteressado. O mais importante é desenvolver uma cultura permanente de suspeita sobre estas. Não se deixa sem punição as diferenças de opinião.
Se existirem elementos intelectuais que vão desacreditando os factos de governação, procura-se ter peritos alternativos, que venham contrariar e que tentem provar o contrário, principalmente, nos programas das mesas redondas, nas televisões.
Não se pode ficar quieto. Dê-se início a processos criminais, contra quem anda a fazer denuncias e alertas, ou então, há que empata-los, o mais que se puder, em batalhas de tribunal, prolongadas e de preferência, que os levem à ruína.
É fundamental manter um controlo executivo sobre o que seja comunicação de tipo político. Chegando-se ao governo, há que reunir, logo, uma equipa de especialistas em relações públicas que sejam obstinados e mestres na arte do dar a volta às coisas. Mas, a todas as coisas que se possam virar contra os políticos. Desde uma universidade inconveniente até ao cigarrito que se fuma dentro de um avião.
A imagem que se tem de ser construída por esses mestres é a de um primeiro-ministro trabalhador, um homem dedicado, um homem que se fez a si mesmo, um líder no qual as pessoas consigam encontrar, sempre, alguma coisa com que se possam identificar e mais, alguma coisa que gostassem de ser.
Já no que diz respeito, à comunicação social, esta deve ser conhecedora dos planos do governo, em troca de uma cobertura privilegiada, mas favorável.
Os “boys” de alta confiança devem ser esclarecidos, que devem informar o governo, em particular, o gabinete do primeiro-ministro, do contacto com qualquer jornalista. Deve-se pôr travões à fuga de informação. Cuidado com os “boys” já reformados…são mais atreitos a libertar a língua. Se existirem jornalistas inconvenientes, daqueles que se recusam a dilatar as suas fontes, há que colocar processos crimes contra os mesmos, e se tal não chegar, pode-se, sempre, tentar a compra, por outros grupos de interesses, desses meios de comunicação social.
Mesmo que seja em tempos de crise, há que fazer orelhas moucas a todo o pedido de informação, que seja dirigido ao governo. Cuidado com o que se diz. E há sempre como alternativa, por exemplo, se um valor de défice estiver diferente, dizer-se que mudaram as regras contabilísticas e mais isto e mais aquilo, e portanto, é uma mera questão técnica.
Ao fim e ao cabo, há que dizer aos eleitores que se no final do mandato, o governo não tiver cumprido as suas promessas, como é devido, então não merece ser reeleito. Mas há que fazer planos, sempre, para vitórias consecutivas, mudando a noção de que a governação é algo de curto prazo. Há que transmitir a ideia de que há várias eleições a serem ganhas, para que se mudem as regras de jogo e para que a atmosfera de vida pública se vá alterando. Há que tirar da manga, todas as cartas e truques políticos que se podem conhecer, para fazer o que ninguém conseguiu fazer: vencer três mandatos, quatro mandatos e por aí fora.
Assim, se consegue governar…o país? A democracia? Essa caminha, a passos largos, para o abismo. Até lá…vão estando atentos, ao manual de instruções.
“Lacrimis ianua surda tuis”. [Marcial, Epigrammata 10.14.8] A porta está surda às tuas lágrimas.
Em primeiro lugar, há que fazer amigos nas grandes empresas, dos vários sectores -chave. Trazê-las para o núcleo da governação. A política deve estar virada para os grandes negócios e para a alta finança. Creio que temos vários exemplos, muito recentes, em Portugal. Desde a CGD a emprestar dinheiro para se comprarem acções de outros bancos, como foi o caso do BCP, ou a transferência da administração da mesma, para o BCP.
Deve-se defender que a política e os negócios são inseparáveis. A política deve estar perto dos negócios, tal como estes, perto da política. Deste modo, deve-se ir falando da necessidade da iniciativa privada, da redução de impostos para as empresas e a desregulação dos sectores. Os cidadãos devem ter o direito de serem eles mesmo, para que possam enriquecer e consumir sem restrições. Na desregulação, se o leque legislativo estiver muito apertado, por imposições de organismos internacionais, sempre há a possibilidade de colocar, nas instituições reguladoras, na sua gestão, amigos que possam ser passivos e por vezes até fazer alguns jeitos. Se eles se portarem bem, e depois de se tornarem inconvenientes, promovem-se, e colocam-se, os mesmos, nessas mesmas organizações internacionais, em lugares de topo.
Para que o círculo se vá fechando, deve-se procurar a maneira de infiltrar nos sindicatos e associações profissionais, que tentem pensar pela sua própria cabeça, alguns correligionários.
Já quanto aos tribunais e à polícia de investigação, se os mesmos começarem a investigar situações que possam ameaçar o governo, devidamente eleito, há que começar a acusar juízes, magistrados, de conduta desonrosa e de ingerência na actividade de um governo, legitimamente eleito. Era o que faltava. Então, sirvam-se de todos os meios, ao alcance, para pôr em conflito, se possível, as diversas hierarquias de tribunais.
E a luta deixa de estar do lado do governo e passa para a magistratura que vai ficando cada vez mais refém dos políticos. Isso é bom, para dar estabilidade governativa. Haverá que não esquecer da necessidade de se exercerem pressões sobre todos os focos extraparlamentares de oposição. OS críticos do governo devem ser postos de joelhos, de preferência em silêncio. Especial atenção às instituições que monitorizem o poder. Se existirem O.N.G.S. que estejam a causar embaraços, haverá que realizar interrogatórios ameaçadores e questionar, de preferência, as suas fontes de financiamento e mesmo a constituição das suas administrações. Desde logo, insinuam-se dúvidas sobre o seu estatuto e o carácter desinteressado. O mais importante é desenvolver uma cultura permanente de suspeita sobre estas. Não se deixa sem punição as diferenças de opinião.
Se existirem elementos intelectuais que vão desacreditando os factos de governação, procura-se ter peritos alternativos, que venham contrariar e que tentem provar o contrário, principalmente, nos programas das mesas redondas, nas televisões.
Não se pode ficar quieto. Dê-se início a processos criminais, contra quem anda a fazer denuncias e alertas, ou então, há que empata-los, o mais que se puder, em batalhas de tribunal, prolongadas e de preferência, que os levem à ruína.
É fundamental manter um controlo executivo sobre o que seja comunicação de tipo político. Chegando-se ao governo, há que reunir, logo, uma equipa de especialistas em relações públicas que sejam obstinados e mestres na arte do dar a volta às coisas. Mas, a todas as coisas que se possam virar contra os políticos. Desde uma universidade inconveniente até ao cigarrito que se fuma dentro de um avião.
A imagem que se tem de ser construída por esses mestres é a de um primeiro-ministro trabalhador, um homem dedicado, um homem que se fez a si mesmo, um líder no qual as pessoas consigam encontrar, sempre, alguma coisa com que se possam identificar e mais, alguma coisa que gostassem de ser.
Já no que diz respeito, à comunicação social, esta deve ser conhecedora dos planos do governo, em troca de uma cobertura privilegiada, mas favorável.
Os “boys” de alta confiança devem ser esclarecidos, que devem informar o governo, em particular, o gabinete do primeiro-ministro, do contacto com qualquer jornalista. Deve-se pôr travões à fuga de informação. Cuidado com os “boys” já reformados…são mais atreitos a libertar a língua. Se existirem jornalistas inconvenientes, daqueles que se recusam a dilatar as suas fontes, há que colocar processos crimes contra os mesmos, e se tal não chegar, pode-se, sempre, tentar a compra, por outros grupos de interesses, desses meios de comunicação social.
Mesmo que seja em tempos de crise, há que fazer orelhas moucas a todo o pedido de informação, que seja dirigido ao governo. Cuidado com o que se diz. E há sempre como alternativa, por exemplo, se um valor de défice estiver diferente, dizer-se que mudaram as regras contabilísticas e mais isto e mais aquilo, e portanto, é uma mera questão técnica.
Ao fim e ao cabo, há que dizer aos eleitores que se no final do mandato, o governo não tiver cumprido as suas promessas, como é devido, então não merece ser reeleito. Mas há que fazer planos, sempre, para vitórias consecutivas, mudando a noção de que a governação é algo de curto prazo. Há que transmitir a ideia de que há várias eleições a serem ganhas, para que se mudem as regras de jogo e para que a atmosfera de vida pública se vá alterando. Há que tirar da manga, todas as cartas e truques políticos que se podem conhecer, para fazer o que ninguém conseguiu fazer: vencer três mandatos, quatro mandatos e por aí fora.
Assim, se consegue governar…o país? A democracia? Essa caminha, a passos largos, para o abismo. Até lá…vão estando atentos, ao manual de instruções.
“Lacrimis ianua surda tuis”. [Marcial, Epigrammata 10.14.8] A porta está surda às tuas lágrimas.
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