terça-feira, 24 de agosto de 2010

A HISTÓRIA DA VIDA DE UM AMIGO

Lembrei-me da história de um amigo que foi vivendo um casamento de muitos anos, em que a senhora tinha um filho de outro casamento.
Educou o filho dela, como se seu filho se tratasse, e embora, também, tivesse um filho, mas que vivia com os avós maternos, acabou por maioria de razão, em dar mais ao filho da mulher do que ao seu próprio filho.
O seu próprio filho, não foi acarinhado, pela madrasta como se esperava, pelo menos como retribuição da dedicação dada, pelo seu marido, ao seu filho.
Decorridos vinte anos, a senhora ficou portadora de uma doença psiquiátrica, que no convívio fugaz das pessoas estranhas à casa, não se revela, e que é uma depressão recorrente psicótica.
É um transtorno que se caracteriza pela ocorrência repetida de episódios depressivos, sendo o episódio actual grave, com sintomas psicóticos, mas com antecedentes de mania.
Depressão endógena com sintomas psicóticos.
Em suma, Psicose maníaco-depressiva, forma depressiva, com sintomas psicóticos. Mas, o que é a psicose?
Esta é um estado anormal do funcionamento psíquico. Mesmo não sabendo exactamente como são as patologias psiquiátricas, podemos imaginar algo semelhante ao compará-las com determinadas experiências pessoais. A tristeza e a alegria assemelham-se à depressão e a mania, a dificuldade de recordar ou de aprender estão relacionada à demência, o medo e a ansiedade perante situações corriqueiras têm relações com os transtornos fóbicos e de ansiedade. Da mesma forma outros transtornos psiquiátricos podem ser imaginados a partir de experiências pessoais. No caso da psicose não há comparações, nem mesmo um sonho por mais irreal que seja, não é semelhante à psicose.
A essência da psicose, está, por exemplo, quando alguém nos conta uma história realista, dependendo da confiança que temos nessa pessoa acreditaremos na história. Na medida em que constatamos indícios de que a história é falsa começamos a pensar que o nosso amigo se enganou ou que no fundo não era tão confiável, assim. Nesse evento o que se passou? Primeiro, um facto é admitido como verdadeiro, depois novos conhecimentos ligados ao primeiro são adquiridos, por fim a confrontação dos factos permite a verificação de uma discordância. Essa forma de proceder, provavelmente, é exercida diariamente por todos nós. A forma de conduzir ideias, confrontando-as com os factos, é uma maneira de estabelecer o contacto com a realidade. O que aconteceria se essa função mental não pudesse mais ser executada? Estaríamos diante de um estado psicótico! Pois bem, o aspecto central da psicose é a perda do contacto com a realidade, dependendo da intensidade da psicose. Num dado momento a perda será de maior ou menor intensidade. Os psicóticos quando não estão em crise, zelam pelo seu bem -estar, alimentam-se, evitam ferir-se, têm interesse sexual, estabelecem contacto com pessoas reais. Isto tudo é indício da existência de um relacionamento com o mundo real. A psicose, propriamente dita, começa a partir do ponto em que o paciente se relaciona com objectos e coisas que não existem no nosso mundo. Modifica os seus planos, as suas ideias, as suas convicções, o seu comportamento, por causa de ideias absurdas, incompreensíveis, ao mesmo tempo em que a realidade clara e patente, significa pouco ou nada para o paciente. Um psicótico pode, sem motivo aparente, cismar que o vizinho de baixo está a fazer macumba para ele morrer, mesmo sabendo que no apartamento de baixo não mora ninguém. A cisma, nesse caso, pertence ao mundo psicótico e a informação aceite de que ninguém mora lá é o contacto com o mundo real. Explicação de como isso acontece é irrelevante, o facto é que o vizinho está a fazer macumba e pronto. O psicótico vive num mundo onde a realidade é outra, inatingível por nós ou mesmo por outros psicóticos, mas vive simultaneamente neste mundo real.

Podem imaginar, o que é viver com alguém, deste modo.
O filho, também um demente, depois do meu amigo ter sofrido de um cancro, começou a receber mensagens, sem qualquer explicação, de citações, do Dalai Lama, tais como: “O que mais surpreende é o homem, pois perde a saúde para juntar dinheiro, depois perde o dinheiro para recuperar a saúde. Vive pensando ansiosamente no futuro, de tal forma que acaba por não viver nem o presente, nem o futuro. Vive como se nunca fosse morrer e morre como se nunca tivesse vivido.”
Ora, o meu amigo, tinha perdido a saúde, e tinha levado uma vida de trabalho e de poupança, exactamente, com receio do futuro. As coisas imprevistas que nos podem suceder e uma delas, é a falta de saúde. Receber esta mensagem, via telemóvel, depois de um acontecimento desta natureza e que ainda estava presente, na altura, é no mínimo, um acto de terrorismo mental, pior que a coacção moral.
Numa tentativa continuada de viver, já com mais de trinta anos, à pala do padrasto, posteriormente, ainda lhe disse: “ Casaste com a minha mãe, tens que me aguentar”.
Este meu amigo vive esta realidade, há mais de quatro anos, da sua vida.
Ainda não se tinham passado dois anos sobre o primeiro infortúnio da doença, volta a ter outro cancro, noutro órgão.
Foi operado, e ao fim de cinco dias da operação, estando em casa, a mulher pergunta-lhe: “ Olha, onde é que tens o dinheiro?”. “Se tivesse acontecido alguma coisa?” (eu e o meu filho ficávamos tesos! Sublinhado meu).
Bom! Este meu amigo, não lhe bastava as doenças de que tinha sido acometido, ainda sofreu todos estes ataques, pelo enteado e pela mulher, focados nas possíveis poupanças que este tivesse feito, ao longo da sua vida.
Este “post”, pelas suas razões, já vai longo, e toda a história deste meu amigo, poderia dar um livro repleto de acontecimentos, que não são mais que uma vida vivida, infelizmente, pelos motivos invocados, uma infelicidade.
Mas deixo aqui, um desafio a todos os que se dão ao trabalho, de ler os meus postes…se tiver reacções positivas a este post, um dia que tenha mais sossego, escrevo um livro sobre a história da vida deste meu amigo, que pode ser um bom guia, para todos aqueles que o leiam, principalmente, os mais novos.
Já é difícil, viver a vida a dois, sem ter os filhos dos outros sob a nossa responsabilidade. Mas, depois de uma vida de trabalho, ser brindado deste modo, é um alerta, a todos e todas que queiram assumir esta responsabilidade…casar com alguém que tem um filho que criou desde pequeno e que leva a mãe ao estado mental descrito, por esta ter a consciência, de que ele é um mentecapto e demente, e tornando a vida, dos respectivos cônjuges, num completo inferno, ao cimo da terra.
Tenho grande admiração, por este meu amigo. Espero que ele não me leve a mal de escrever um pequeno trecho desta história, mas como não identifiquei ninguém, ele continua salvaguardado.
Meu amigo! Vê se encontras o modo de te libertar e viver a vida que ainda tens pela frente.
Mereces muito mais!


“Malis mala succedunt.” [Erasmo, Adagia 3.9.97] ■Males a males sucedem. ■Uma desgraça nunca vem só.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sei o que isto é. Infelizmente, também me bateu à porta. O que é curioso é que é preciso estar-se mesmo demente por completo para que a lei intervenha e obrigue estas pessoas a tratarem-se, devidamente. O que é sempre muito dificil. Parabéns pela descrição. Embora seja um caso infeliz,penso que é importante estas divulgações, para alertar outras pessoas. Obrigado pelo "post".Desculpe ser anónimo, mas como tenho um caso idêntico, não quero deixar aqui a minha identificação. Obrigado.