quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

TREZENTOS E SESSENTA E CINCO DIAS DE 2012


Trezentos e sessenta e cinco dias tem um ano. Foi o que aconteceu com dois mil e doze. Sem tirar nem pôr.
Há quem faça um diário e vá narrando, dia a dia, o que de mais importante se lhe passou. Nunca tive jeito para isso. Aliás, penso que essa particularidade está mais a condizer com o género feminino.
Se algum de nós quiser saber o que se passou no dia x do ano y, o melhor é ter uma amiga ou irmã a quem possa perguntar.
Os homens, por defeito, só não esquecem o que de facto é importante, talvez por isso esqueçam o que não é importante, para que possam pensar no que é relevante.
E relevante, são alguns factos que se passaram em 2012, como sejam o aumento de impostos. Relevante, foram os cortes nos salários. Relevante, foram as atrocidades sociais perpetradas pelo governo, agindo munido de uma legitimidade que para os mesmos não tem limites. Nem os das contestações populares, nem as que colidem com os normativos constitucionais.
Relevante terá sido a ausência de um Presidente da República, cujas intervenções só se coadunam com alguém que só chega a líder do PSD, por mero acaso, e em resultado de uma rodagem ao carro novo.
Tudo os que nos toca de modo especial, todos nós nos lembramos. Não é preciso um diário. Porque, também, não temos por hábito andar a xingar ninguém com as pequenas coisas da vida.
Mas, a mentira, seja ela dos políticos ou de quem for, não nos esquece. A traição, dentro ou fora da política, também, não nos esquece. Mas, o que não esquece nunca é a deslealdade e o ferir da dignidade que cada um de nós tem.
Por isso, quem é que diz a um reformado, que trabalhou e descontou 40 anos da sua vida activa para a sua reforma, que um bando de bandidos, legitimados por menos de trinta por cento dos portugueses, possam de modo unilateral, invocar alterações das circunstâncias para não cumprir um contrato de 40 anos?
É uma violação do principio da boa-fé, que cada cidadão deu ao Estado, ao confiar-lhe as suas poupanças.
Quem é que explica aos portugueses sob a alçada do Estado que depois de um acórdão do Tribunal Constitucional, em virtude da fiscalização sucessiva, de 2012, em que declarou a não constitucionalidade do não pagamento do subsidio de férias e de natal, ver novamente, o mesmo governo, a utilizar o mesmo meio para não pagar um dos subsídios?
Não estamos num estado de direito. Assiste-nos, a nós portugueses, o direito de reagirmos em legitima defesa e, também, por acção directa, quando a justiça e o mais alto dignatário da nação, não impede o roubo, pelo estado, de um salário dos seus trabalhadores, reiterando a violação da constituição.
O que já está em causa nesta política é a deslealdade de um governo, a sua traição, a mentira porque é movido e o atentado à dignidade de cada um de nós, num período em que a crise tem vindo a legitimar tudo e mais uma botas, e em concreto, as privatizações mal esclarecidas, a que nos habituámos a assistir, para favorecer os grandes amigos instalados no poder financeiro.
Nem já os mais velhos se lembram, quanto mais os fedelhos que estão no governo, o que é lealdade e dignidade. Porque se tivessem dignidade, já se tinham demitido.
 

1 comentário:

Jose barbosa disse...

Brilhante como sempre. Não comento os outros adjetivos usados no texto, mas tão somente o último "dignidade", sem ofensa, eles nem sequer sabem o que é isso. E quem não é digno não pode servir. Quem não é digno não pode ocupar cargos que mexem com a vida das pessoas. Eles não podem estar no GOVERNO.