terça-feira, 9 de dezembro de 2008

INDEPENDÊNCIA,MAS NÃO TANTO!

Qual não é o meu espanto, quando observo que continua na RevistaÚnica, do Jornal Expresso, publicidade do Banco Privado Português.
Dir-me-ão: “ e que mal tem isso?”
Bom, nenhum! A não ser que essa publicidade seja enganosa e esteja desfasada da actualidade!
E penso eu que sim, em face das últimas noticias de que o Estado (nós) está a garantir, com o direito de penhora sobre os activos do referido banco, o empréstimo de que um consórcio de Bancos que irá financiar o Banco Privado Português, para que o mesmo continue a ter “independência”.

Diz o anúncio: “ Os humanos são dados a vários tipos de desejos e interesses. Já o Banco Privado Português orgulha-se da sua independência face a quaisquer interesses que não sejam os dos seus clientes”.

Mas que raio de independência é esta? Afinal é independente ou não?
Na realidade, há uma parte da afirmação que faz sentido –“ face a quaisquer interesses que não sejam os dos seus clientes”. Direi eu, mesmo que seja à custa do dinheiro dos contribuintes!

Logo a seguir, diz o anúncio - “ O Banco Privado Português não recebeu nenhuma herança mas mesmo assim é um dos bancos mais capitalizados do mundo no seu segmento, com capitais próprios de cerca de 200 milhões de euros”.
Não recebeu nenhuma herança? Foi do esforço do trabalho que se reuni-o o capital de 200 milhões. Mas como fomos aventureiros, tivemos de bater à porta do “Pai Estado”, para pedirmos emprestado 500 milhões.
Seus malandros! Gastaram mais do que tinham! É sempre assim, quando julgamos que já temos idade para fazer tudo na vida e que estamos sempre cheios de razão e, depois, pimba!

Mas sempre com a arrogância de quem sabe tudo, ainda dizem a seguir –“ Já o Banco Privado Português não é dado a fantasias. Prova disso é a Estratégia de Retorno Absoluto que garante aos seus clientes não só a valorizações reais e potenciais competitivas, como a conservação do capital investido”.
Nesta afirmação há uma parte não verdadeira e outra verdadeira. Vamos analisar a situação:

Não é dado a fantasias- é preciso ter lata. Então gastam os 200 milhões euros, vêem pedir 500 milhões e não são dados a fantasias? Não me digam que investiram o dinheiro em “Certificados de Aforro”?
Garantem a conservação do capital investido” – também eu, se pudesse ir ao Estado pedir dinheiro, cada vez que gasto de mais. O tanas! Se não pago atempadamente as minhas contas, vem o “fisco” e pimba que é para aprenderes. Por falar nisso, não se arranja por aí algum para pagar o “pagamento especial por conta” da minha actividade como professor?
“ A Estratégia de Retorno Absoluto”? Mas ainda acreditam nestas balelas? Estou curioso, depois desta intervenção do Estado, qual vai ser o retorno. Mais, quero saber que retorno é que eu e os restantes 10 milhões da papalvos vamos ganhar com isto.

Não me parece que a credibilidade possa ser defendida assim. Quando havia retornos, não os compartilharam, pois sabemos das vantagens dos “trust offshore”, logo, da possibilidade de não pagar o IRC que o “Restaurante Ao Tom Dele” tem de pagar, embora aqui também se possa fazer umas malabarices.

Salvo melhor opinião, quebrou-se aqui a “boa-fé”, pois não pode existir fidelidade à palavra dada.

Por outro lado, politicamente, tem-se batido um pouco no Governador do Banco de Portugal, pela qualidade da supervisão exercida, junto da Banca, em geral.
E até certo ponto, existe verdade, pois o “Regime das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras”, diz claramente, no art.º116.º, que o “Banco de Portugal pode exigir a realização de auditorias especiais por entidade independente, por si designada, a expensas da instituição”.

Ora, sempre que os Bancos apresentem uma redução dos fundos próprios a um nível inferior ao mínimo legal, o Banco de Portugal tem forçosamente que intervir.
Mais escandaloso se torna, em relação à situação do BPN que era sabida, da opinião pública, em geral, vai para vários anos.
O Banco de Portugal não tem meios – contrata - e ainda por cima, quem paga são as instituições auditadas.
A Democracia vai mal e, pior vão, os que durante anos procuraram vender uma imagem de líderes e sabedores do “métier”, afinal, não passavam de falácias e de maus exemplos, quer para os da sua geração quer para os mais novos.
Os maus exemplos multiplicam-se, muito antes da “crise” que estamos a atravessar.

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